A troika chegou a acordo com o governo grego sobre as condições do novo resgate, o parlamento grego aprovou as medidas, os bancos gregos reabriram com o dinheiro fresco do BCE, mais 86 mil milhões (36% do PIB) vão ser entornados na economia grega. A Grécia está, pois, no bom caminho. Certo? O mais provável é estar errado.
Em primeiro lugar por razões históricas. Há décadas que a Grécia não tem contas equilibradas, a evasão fiscal é endémica e a falsificação das contas é a ciência nacional. O que mudou para esses hábitos mudarem?
Em segundo lugar por razões políticas internas. O governo é uma coligação de dois partidos extremistas de esquerda e de direita que não acreditam nas medidas que terão de implementar e só assinaram porque não tinham dinheiro. O suporte parlamentar diminui cada dia. Um terço dos deputados do Syriza votaram contra na madrugada de 6.ª feira e as medidas só foram aprovadas com o voto da oposição. E vem mais rebelião a caminho.
Em terceiro lugar por razões políticas externas. Os dados da questão são:
- É indispensável a participação do FMI (a única instituição com know-how e estômago para acompanhar o resgate);
- Christine Lagarde está ansiosa por renovar o mandato e sob pressão dos membros não europeus do FMI para aplicar a receita habitual que implica um haircut aceite pelos credores - com excepção do próprio FMI;
- De onde haverá enorme pressão sobre os membros da Europa Central e do Norte que querem respeitar o artigo 125.º do Tratado de Lisboa;
- Alguns dos governos desses países sabem de ciência certa que não terão apoio dos seus eleitores e a criação de precedentes conduzirá uma situação insustentável que só poderia ser resolvida com mais união política - outro grande salto em frente, desta vez para o abismo porque já não existe suporte eleitoral.
É claro que se sabe que o infractor desperta simpatias e pode contar com quase toda a esquerda promotora da irresponsabilidade e do despesismo, que se excita com a desgraça auto-infligida e, embora nem toda tenha a ousadia de o proclamar, no fundo defende «os ricos que paguem a crise».
E não só a esquerda europeia, também luminárias americanas como Paul Krugman, Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs - «an odd alliance of Anglo-American economists and European leftists sympathetic to Greece’s Syriza party», nas palavras da Economist. E ainda alguns governos, como o americano que, como aqui escrevi, tem pressionado a UE para atirar mais dinheiro para cima da Grécia comprando o governo Syriza-Anel para que não se venda à Rússia, a exemplo do que os EU fazem ao Paquistão com o sucesso conhecido: venda da tecnologia da bomba nuclear à Coreia do Norte, apoio do exército paquistanês aos taliban no Afeganistão e hostilidade contínua ao maior aliado dos EU na região – a Índia, o único país na região que se pode considerar ter um regime democrático.
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