«Grécia: não é esquerda ou direita, é máfia»
Henrique Raposo no Expresso
«Grécia tem sido pintada pela esquerda como uma espécie de Palestina a sofrer invasões diárias dos exércitos sionistas que, neste caso, têm a forma de cifrões capitalistas criados pelos sábios de Sião. O espetáculo é confrangedor porque a Grécia não é de esquerda ou de direita. Aquilo que existe na Grécia não é um estado social, mas sim um estado mafioso. Os gregos não são preguiçosos como tantas vezes se diz, mas vivem dentro de um estado corrupto que transformou o clientelismo mafioso numa ferramenta legítima. Nem por acaso, tudo gira em torno de duas famílias, os Papandreou e os Karamanlis, os padrinhos desta história. As lealdades na Grécia nada têm que ver com diferenças ideológicas entre Pasok e Nova Democracia, mas com meras dependências pessoais em relação aos Papandreou e Karamanlis. É feudalismo, e não liberalismo versus socialismo. Alguns historiadores, como Nicolas Bloudanis, garantem que esta realidade ainda é uma herança do Império Otomano, que dominou a Grécia entre o século XV e o século XIX. A Grécia não é a patriarca da democracia ocidental, é apenas um produto tardio de um império oriental caído há cem anos.
Mas como é que esta oligarquia mafiosa funcionava? Num texto publicado na "Open Democracy", Manos Matsaganis recorda que autorizou a criação de 865 mil novos empregos no funcionalismo público em apenas cinco anos (2004-2009); em cima do Estado gigantesco que já existia, Karamanlis edificou outro Estado. É por isso que os dois défices da Grécia aumentaram para mais do dobro (o externo: 14,9%; o estatal: 15,4%). É por isso que o Estado empregava cerca de 45% da população ativa. Lamento, mas isto nada tem que ver com política no sentido a que estamos habituados. Isto não é política democrática, isto são famílias políticas a criar laços mafiosos com clientelas através do dinheiro do estado que -atenção -passou a set financiado pelos contribuintes europeus. Eu também estou a pagar esta farsa. E, seja qual for a alegada importância geopolítica da Grécia, não estou disponível para continuar a financiar a máfia política grega. O empréstimo de dinheiro tem de servir para uma reforma profunda desta forma de fazer política.
Caso contrário, não vale a pena. Há que olhar para Costas Simiris, o socialista que em 2001 tentou reformar o estado e o insolúvel sistema de pensões que já valia 17% do PIB. Claro que as clientelas vieram para a rua em nome do "estado social" e Simitis perdeu as eleições em 2004 para os homens que autorizaram 865 mil novos empregos no funcionalismo público. A Grécia precisa de um novo Simicis, caso contrário não vale a pena continuar com esta "never ending story" para adultos.
Em termos históricos, o Syriza não tem culpas neste cartório, mas agora parece capturado pelo mesmo clientelismo. Nem por acaso, Tsipras entrou em choque com o FMI pelo seguinte: o fundo não quer aumento de impostos, mas sim reformas neste estado corrupto; ao invés, o Syriza está disponível para aumentar impostos, mas recusa fazer as cais reformas, porque a velha clientela cominua a exigir as velhas regalias. É por isso que grande parte dos gregos querem uma coisa e o seu contrário, querem continuar no Euro mas não querem cumprir as exigências do Euro. Mas, verdade seja dita, se eu fosse grego também estaria a dar este espetáculo de incoerência. Porquê? Reparem na relação que os governos gregos têm mantido com o cidadão normal: para começar, o governo dá emprego à pessoa x em croca de um voto, transformando assim o estado num mecanismo mafioso de compra de lealdades; como se isto não fosse suficiente, o governo depois garante que o estado não vai importunar a pessoa x através do sistema fiscal. Ou seja, os governos estão há décadas a dizer o seguinte ao eleitor grego: "olha, tu e a tua família votam em mim e, em troca, dou-te emprego e, ora essa, também não pagas impostos!". Se eu fosse grego, também estava nas ruas a dizer que não queria mudanças. É que isto é a perfeita quadratura do círculo alimentada pelo dinheiro dos outros.»
Não é necessário ir tão longe. Agora com os lowcost vai a Madeira por pouco dinheiro e tem a vantagem que percebe o que eles dizem e vê in loco como se compram votos.
ResponderEliminarQuando ia a Madeira os meus amigos proibiam-me de comprar o Expresso na banca no quiosque porque a rede de informadores controlavam quem lia o Expresso. Jardinisses com cheiro a republica grega; ou das bananas.