«O plano da Comissão, uma iniciativa assinada pelo presidente Jean-Claude Juncker no início do seu mandato, não constitui nenhuma surpresa. Com a Zona Euro presa numa recessão aparentemente interminável, a ideia de que o investimento potenciador de crescimento é crucial para uma recuperação sustentável está profundamente enraizada no discurso público. O pressuposto subjacente é que mais investimento é sempre melhor, porque aumenta o stock de capital e, portanto, a produção.
Este não é necessariamente o caso da Europa nesta altura. As autoridades da União Europeia (e muitas outras) argumentam que a Europa - especialmente a Zona Euro - sofre de uma "lacuna de investimento". Supostamente, a prova irrefutável é o défice anual de 400 mil milhões de euros, relativo a 2007.
Mas a comparação é enganosa, porque 2007 foi o auge de uma bolha de crédito que levou a uma grande quantidade de investimentos desperdiçados. A Comissão reconhece isso na sua documentação de apoio para o plano Juncker, na qual argumenta que para determinar os níveis de investimento desejáveis hoje em dia, devem usar-se como referência os valores dos anos anteriores ao auge de crédito. De acordo com tais parâmetros, a lacuna de investimento corresponde apenas a metade do valor anteriormente mencionado.
Infelizmente, mesmo os anos anteriores ao auge não constituem um bom guia para a economia europeia actual, porque algo fundamental mudou mais rapidamente do que é reconhecido: a evolução demográfica da Europa.
Na Zona Euro, a população em idade de trabalhar tem vindo a crescer até 2005, mas vai diminuir a partir de 2015 em diante. Dado que a produtividade não melhorou, menos trabalhadores significam taxas de crescimento potencial significativamente mais baixas. E uma menor taxa de crescimento significa que é necessário menos investimento para manter a relação capital/ produção.
Se a Zona Euro mantém a sua taxa de investimento ao nível dos anos pré-boom, logo haverá muito mais capital em relação ao tamanho da economia. Podemos ser tentados a pensar: E daí? Mais capital é sempre bom.
No entanto, um stock de capital cada vez maior em relação à produção significa que os rendimentos do capital sejam cada vez menores e, portanto, que haja cada vez mais empréstimos em incumprimento no sector bancário ao longo do tempo. Dada a debilidade do sistema bancário europeu, acumular demasiado capital não é um luxo que a UE possa pagar.»
Note-se que esta análise de Daniel Gros tem muito pouco a ver com as economias da Europa do Sul, em particular com Portugal, que precisa efectivamente de investimento, mas com as economias desenvolvidas da Europa Central e do Norte. Daí que também a receita de Gros para fazer crescer de novo estas últimas economias – estimular o consumo – nada tenha a ver com a terapêutica mais conveniente para a Europa do Sul. Conclua-se, a propósito, que nesta dualidade residem muitas das dificuldades de superar uma crise que requereria políticas monetárias e orçamentais muito diferentes impossíveis de adoptar numa zona monetária única.
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