Pelas gretas de uma prudente gestão de silêncios, António Costa vai deixando escapar o seu «programa». Na última entrevista ao Correio da Manhã, defende o «aumento significativo» do salário mínimo («este ano já devíamos ter chegado aos 522 euros»), por muito que o seu chief economist Mário Centeno, escolhido para desenhar a estratégia económica, tenha publicado no Boletim Económico do BdP um estudo (*) onde conclui que o aumento do salário mínimo acima de uma certa proporção do salário médio aumenta o desemprego e obriga as empresas a cortar outros custos de produção, baixando os salários médios.
Costa defende também «o relançamento da construção (que) é absolutamente capital para o futuro do país», por muito que tenhamos o país coalhado de auto-estradas e dezenas de milhares de milhões de euros por pagar para as ter feito e as manter, e por muito que tenhamos mais de 700 mil casinhas inabitadas e as famílias endividadas com a compra de habitação.
Costa defende ainda a capitalização da TAP «sem passar pela privatização», que é como quem diz com recurso ao aumento da dívida primeiro e, depois, dos impostos para a pagar, aumentos aos quais Costa faz uma finta dizendo que «compromissos de matéria fiscal (só) depois de estar concluído o estudo sobre o cenário macroeconómico», cenário que não lhe faz falta nenhuma para defender o aumento do salário mínimo, o relançamento da construção e a capitalização da TAP.
Costa ainda tem tempo para criticar o actual governador do BdP que «não esteve à altura e isenção e independência que se exige», certamente tendo em mente o modelo de Vítor Constâncio, um antigo secretário-geral do PS, cuja isenção e independência lhe mereceu o epíteto de ministro anexo.
(*) «O impacto do salário mínimo sobre os trabalhadores com salários mais baixos», Boletim Económico - Outono 2011
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