«A "Golden Age" holandesa é um referente histórico das virtudes de uma sociedade civil liberta da dependência do Estado e capaz de determinar e construir o seu futuro e assumir riscos, independentemente dos humores e favores do poder político. Compare- se, por exemplo, o que foi, nesse período, a nossa indigente pintura, encomendada pela Corte ou pelos mosteiros (a tal "cultura" subsidiada) com a pintura holandesa, no mesmo período de 60, 70 anos: uma produção estimada de cinco milhões de quadros a óleo para um mercado exclusivamente privado - entre os quais muitos que marcaram para sempre a história da arte, de Vermeer, Rembrandt, Rubens, Franz Hals, Van Ruysdel. É isso, essa capacidade de triunfar sem ser por encomenda ou favor oficial, que nós nunca tivemos e, goste-se ou não deles, é isso que, hoje ainda, os holandeses desprezam em nós. E, por isso também, somos tão mal tratados em Bruxelas.
Portugal tem hoje um problema de Estado e um problema de nação. O problema de Estado é o nível arrepiante de dívida pública atingido pela irresponsabilidade com que o Estado foi governado durante trinta anos, de modo a satisfazer as exigências eleitorais da nação. Esse problema não o conseguiremos resolver sozinhos, se não pudermos contar com aquilo a que bondosamente chamamos os nossos parceiros europeus. Mas, para conseguir ultrapassar esse problema, temos de enfrentar, antes e depois, outro, que é só nosso e só de nós depende resolver: o problema da nação perante o Estado. Por muito que isto custe a admitir a muitos, este Estado não é suportável pela nação, e cada vez será menos. Os tempos mudaram e, entre outras coisas, já não temos os 300.000 pensionistas de há trinta anos, mas sim 3 milhões. Enquanto o pensamento dominante entre os portugueses for o da dependência do Estado - e não falo dos pensionistas, mas de tudo o resto - estamos condenados a ser um país pobre e uma nação arruinada para sustentar um Estado, que, mesmo assim, só sobrevive com crédito externo. Que os nossos filhos e netos, ou alguém que aqui reste, terá de pagar.
A menos que haja alguém que conheça e demonstre outra solução mágica, não vejo como pode haver um debate político sério que não enfrente esta questão.»
Excerto de «Nação e Estado», Miguel Sousa Tavares no Expresso
Desta vez MST olha as nossas desgraças presentes à luz da história e da geografia e situa no reinado do Bem-Aventurado, por volta dos princípios do século XVI, as raízes da portugalidade – isto é do colectivismo e da dependência atávica do Estado - tal como a conhecemos hoje. Como é possível esta criatura conciliar esta visão lúcida com as inclinações socialistas e a sua reverência pelo pior que o socialismo lusitano produziu até hoje: o engenheiro José Sócrates?
Mas ele continua a ser reverente com Sócrates, não reconhecendo que foi este quem mais dívida contraíu!... Até Sócrates, a dívida rondava 60% do PIB, que é um valor aceitável.
ResponderEliminartina