16/03/2014

ARTIGO DEFUNTO: A tudologia é uma ciência de causas

Uma vez ou outra, por desfastio, dou-me ao trabalho de ler com um pouco mais de atenção os exercícios de tudologia de Miguel Sousa Tavares (tudólogo foi como um leitor o chamou a propósito do que escreveu sobre um assunto – salvo erro agricultura - que ignorava completamente). A miscelânea de pseudo-factos com opiniões forma uma mistura não inextrincável que torna dificílimo perceber onde termina a ignorância e onde começa a má-fé.

Desta vez, ao ler a sua coluna semanal no Expresso («A cada um o seu timing») fico-me por um dos seus argumentos para demonstrar a insustentabilidade da dívida pública - ou melhor para demonstrar a necessidade da União Europeia fazer alguma coisa pela dívida portuguesa - a saber: «hoje, um país como Portugal, gasta no seu serviço de dívida o mesmo que gasta com o Serviço Nacional de Saúde».

Em primeiro lugar, MST compara coisas incomparáveis porque «serviço da dívida» é a soma de uma despesa (juros pagos) com a redução da dívida (amortizações), enquanto a despesa do SNS é isso mesmo – uma despesa que, se já faz pouco sentido comparar com juros, não faz nenhum quando se compara com a soma destes e das amortizações.

Em segundo lugar, como facilmente MST poderia verificar, os juros no OE 2014 são cerca de 7,5 mil milhões e a despesa com saúde é de 8,2 mil milhões. Se à despesa pública com saúde acrescentarmos a despesa privada com saúde atingimos a bonita soma de 15,6 mil milhões (Pordata 2012) ou seja mais do dobro dos juros da dívida pública.

Em terceiro lugar, a «língua de palmo» com que MST imagina que pagamos juros aos nossos credores que «continuarão a ganhar com a desgraça alheia» (ó senhor, não é uma desgraça é o fruto da nossa irresponsabilidade e da incompetência das nossas elites, onde se deve incluir o nosso tudólogo que durante 6 anos bateu palmas às políticas socialistas) é a «língua» mais curta dos últimos 20 anos, como é visível nos diagramas seguintes (ver também a série de posts do Pertinente «Mitos – Juros usurários»).



É por esta e por muitas outras é que a maior das nossas desgraças presentes e, receio, futuras, não é a dívida é mediocridade das nossas elites.

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