Uma das «externalidades» da nomeação de Rui Machete foi azedar a relação com a nomenclatura cleptocrata de Angola que o actual e os governos anteriores têm tentado cultivar, de olhos bem fechados, a pretexto da chuva de dólares que acreditam de lá poderem vir – e têm vindo. No estado de necessidade resultante da bancarrota em que o país se encontra, percebe-se que seja feita vista grossa às iniquidades que por lá se passam.
Por várias razões. Porque em termos relativos não é mais difícil de fazer hoje vista grossa à nomenclatura angolana do que já foi no passado, durante a guerra civil em que o PREC e os governos provisórios portugueses tiveram grandes responsabilidades. Porque não é mais difícil fazer vista grossa à nomenclatura angolana do que à nomenclatura venezuelana ou à cubana, para não ir mais longe. Porque não é da responsabilidade de um governo, que nem consegue endireitar o próprio país, endireitar os outros.
Em vez de indignações postiças com o editorial do Jornal de Angola que classifica as elites portuguesas de «corruptas e ignorantes», deveríamos ser capazes de fazer a pergunta de Alberto Gonçalves: «conhecem alguém capaz de jurar que o Jornal de Angola não tem razão?»
Dito isto, o estado actual inquinado das relações Portugal-Angola parece indiciar que em vez de ficarmos bem com a nomenclatura e bem com os negócios ou bem com os princípios e mal com a nomenclatura, estamos a ficar mal com a nomenclatura, mal com os negócios e mal com os princípios.
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