Quando ouço e leio o que dizem e escrevem as criaturas que, após longos anos a celebrar os amanhãs que haveriam de cantar, descobriram surpreendidas numa bela manhã de primavera de há 2 anos que Portugal estava falido, fico, também eu, surpreendido por tamanho mix de desvergonha e incompetência.
A minha surpresa pela dimensão crescente da desvergonha e da incompetência é ela própria crescente quando essas criaturas parecem também, desde então, cada vez mais surpreendidas por estarmos em recessão com o desemprego a aumentar. Evolução, que segundo elas, se deveria à inépcia do governo (inegável, mas incomparável com a do seu predecessor) a quem recomendam que adopte as receitas que nos conduziram onde chegámos nessa manhã de primavera de 2011.
Convém, por isso, lembrar, de vez em quando, porque estamos onde estamos, quem e o quê nos colocou aqui e que, se o caminho para aqui chegarmos levou décadas, o caminho para daqui sairmos levará algum tempo. Segundo os dados de Carmen Reinhart & Kenneth Rogoff, aqui citados, nas crises recentes europeias e asiáticas o desemprego teve um aumento médio de 7% numa duração média de 5 anos, a queda média do PIB per capita foi de 9% por cento na média de 2 anos, e o aumento da dívida pública foi de 86% nos 3 anos seguintes. Recorde-se que estas médias resultam de crises em países, quase sem excepção, com moeda própria e, portanto, com muito mais latitude para “aditivar” as políticas monetárias com desvalorizações.
Não há milagres. Esperai, pois, sentados.
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