Mário Soares diz ao Público (ver excertos no Expresso) que «a democracia está em perigo» e que «somos uma pseudodemocracia». Pode ser chocante dito por um político e ex-presidente da República com enormes responsabilidades na «pseudodemocracia», mas não devemos excluir a razão de Soares.
Não poderá de facto estar a democracia em perigo, quando um ex-presidente declara ilegítimo um governo maioritário saído de eleições e declara legítima a suposta vontade de uma minoria de menos de 2% de manifestantes e dos seus porta-vozes, entre os quais ele se inclui?
Não poderá de facto estar a democracia em perigo, quando um ex-presidente da República incita implicitamente às manifestações de rua e in extremis à violência como forma de expressão política? Ou quando defende que o actual presidente da República, perante quem agita o risco de ser assassinado, deve dissolver o parlamento. Ou quando defende que o governo deve dizer e fazer o contrário do que ele próprio disse e fez em circunstâncias semelhantes (ver aqui, aqui, aqui e aqui algumas retrospectivas do que Mário Soares fez e disse na 2.ª intervenção do FMI em 1983 quando era primeiro-ministro).
Não seremos uma «pseudodemocracia» quando alguém que passou imaculado no caso Emaudio, apesar do libelo dos «Contos Proibidos» (um livro de Rui Mateus que se esgotou em poucos dias e estranhamente nunca teve uma 2.ª edição) ou que tem uma fundação financiada e ocupando um edifício cedido por um presidente de câmara que é seu filho, aponta «corrupção a rodos, porque a justiça não funciona ou … só funciona para os pobres»?
Não seremos uma «pseudodemocracia» quando temos uma imprensa dócil, disponível e pronta para acolher e amplificar as barbaridades de Soares e de outros (como o controleiro que dirige a Fenprof em benefício do PCP que para divulgar as suas posições tem tido também no Público um púlpito tão escandalosamente parcial que até Miguel Sousa Tavares se indignou no Expresso de ontem)?
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