15/05/2013

Mitos (110) - O sofrimento dos jovens

No Expresso de sábado passado, escrevia-se a propósito do desemprego: «os jovens é que sofrem mais» por terem uma taxa de desemprego superior a 40%. O jornalista que escreveu essa asserção piedosa deve saber coisas que eu não sei. Vejamos alguns números.

Dos 1.147 mil indivíduos no escalão etário 15-24 anos, grosso modo, 229 mil estão empregados e 166 mil estão desempregados ou inactivos. A taxa de desemprego de 42% não é medida em relação ao número total de jovens no escalão etário (1.147 mil), como aparentemente o articulista de causas imagina, mas em relação aos 394 mil activos. Estão matriculados no ensino secundário 441 mil e 396 mil no ensino superior, a maior a maior parte de uns e outros pertencerão ao escalão 15-24. (Dados do Censo 2011 e da Pordata)

Quantos dos 1.147 mil jovens sofrem? Os cerca de 750 mil não activos não me parece que estejam em estado de sofrimento – vejam-se as festas académicas que mobilizaram centenas de milhares (mais do que todas as manifs contra o desemprego), onde se consumiram uns milhões de litros de cerveja e se torraram milhões de euros; veja-se assiduamente as discotecas cheias e as muitas dezenas de festivais de música (só a Blitz seleccionou 22 melhores entre os festivais de verão) com dezenas ou centenas de milhares de espectadores cada um (em 2008 foram mais de 4 milhões de espectadores), onde se consumirão muitos milhões de litros de cerveja. Quanto aos menos de 15% desempregados, vivem à conta dos e em casa dos pais, aliás como a maioria dos restantes.

Talvez os que mais «sofrem» sejam afinal os 229 mil empregados que têm horários e obrigações profissionais. Além destes «sofredores», quem mais sofrerá? Talvez muitos dos pais dos restantes que os sustentam e muitos dos avós para quem os pais não estão disponíveis, de tão ocupados a cacarejarem à volta dos seus frágeis rebentos.

5 comentários:

  1. Se estão tão bem, porque emigram 100 mil por ano? Ou serão os reformados e pensionistas que estão a emigrar? JEM

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  2. Os reformados e pensionistas depois de terem passado a vida a trabalhar no duro e a descontar para que as "novas gerações" tivessem escolas, universidades, bolsas, estádios, autoestradas, e outros "direitos" terão agora a obrigação de morrer cedo para que os JOVENS possam usufruir de "TUDO A QUE TÊM DIREITO".

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  3. Os jovens pagam hoje os impostos mais elevados que há memória para suportarem a segurança social mais generosa, sabendo que só terão eles direito a uma reforma simbólica. Se há coisa que os jovens vão herdar em Portugal da geração grisalha são dividas, somos o 4o país mais endividado do mundo.

    Na Alemanha as pessoas reformam-se com 50% do ultimo salário aos 67 anos. Em Portugal temos centenas de milhares de pessoas que se reformaram antes dos 60 com 90% do melhor salário. Pagos pela geração a recibos verdes, que mais emigra, com mais desemprego, numa situação económica tão difícil que faz com que desistiram de ter filhos ou se limita a um único filho. Mas a geração grisalha que se auto garantiu reformas insustentáveis pagas pelos precários diz, do alto da sua benevolência, cortem em tudo mas não toquem na minha reforma.

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  4. Caros amigos,
    Este meu post tem pouco a ver com conflitos geracionais. Tem mais a ver com as consequências de uma cultura colectivista, conformista, avessa ao risco e à iniciativa que fomenta a dependência de um Estado paternalista de quem tudo esperamos mas não estamos dispostos a pagar. Essa cultura impregna tanto os jovens como os outros, sendo certo que, se maioria dos portugueses tem alguma responsabilidade por estado de coisas, essa responsabilidade é maior para os mais velhos e para os que têm tido um papel activo neste caminho – nomeadamente quase todos os políticos.
    É esta cultura que leva os adultos a verem os jovens como uns coitadinhos sofredores e os incentiva a verem-se assim, e não como pessoas livres e responsáveis. Infantilizam e trazem os jovens ao colo com a má consciência de lhes deixarem uma dívida que os esmagará, de ocuparem empregos vitalícios, e na esperança de que esses jovens estejam dispostos a pagar-lhes pensões que eles próprios não terão.

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  5. IO disse muito bem. Tal como o Anónimo de 16/05/2013, 08:02:00

    Trabalhem, vão arranjar terrenos e casa na "província" aonde poderão ter galinhas, ovos, couves, alfaces e fruta. Muitos terão as propriedades dos seus avoengos.
    Trabalhem, como eu fiz, sem pena, sem sacrifício. Nunca me faltou o "pão nosso de cada dia".
    Vamos! Podemos! Fomos os melhores do mundo há 500 anos. Por que não agora?

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