Em tempos, a propósito desse apreciado desporto nacional de produção de cartas abertas, o Impertinente acrescentou ao Glossário das Impertinências o termo, assim definido:
É uma contradição nos termos. Uma carta é fechada. Uma carta que é aberta, não é fechada (ver La Palice). É, pois, uma carta que não é uma carta. É uma circular que tem como destinatários reais toda a gente menos o destinatário formal. É também uma grande falta de vergonha de quem a escreve, ao divulgar os seus termos por terceiros, muitas vezes antes do destinatário a conhecer, sem cuidar de saber se autorizaria. É, em suma, um insulto à inteligência de todos os seus destinatários.
É mais ou menos isto que se está a passar com o líder do PS que anda há vários dias a escrever uma carta à troika cujas diferentes versões já são conhecidas de toda a gente menos dos seus destinatários: o BCE, a CE e o FMI. A carta, à maneira do seu autor, parece dizer uma coisa e o seu contrário. Por um lado jura que «honrará os compromissos assumidos pelo Estado português» mas, por outro lado, diz que «o momento chegou para reorientar o memorando», ou seja para não os cumprir.
Passemos às cartas fechadas, que são como os melões – só se sabe se são boas depois de as abrir. Como os melões ou como os militantes dos partidos, cujo recrutamento parece estar muito difícil como, segundo o SOL de ontem, confessou com apreciável e distraída sinceridade o dirigente do PS Ricardo Gonçalves durante o jantar da «tertúlia dos amigos do Tó Zé»: «como é que em época de crise prolongada vou integrar gente, se não tenho nada para distribuir?»
Dos parágrafos, o primeiro e o último são antológicos.
ResponderEliminarO primeiro, referindo-se ao "último a saber", pode ir para junto das n+1 definições de "corno".
O outro, o dos melões, calha mesmo ao filoagricultor de sofias.
Abraço do eao