09/01/2013

CASE STUDY: As propostas do FMI ou de como os portugueses lidam muito mal com a realidade, adoram o consenso e repudiam as mudanças

Tenho à minha frente um documento pdf criado esta manhã às 7:20:37 contendo o relatório do FMI «PORTUGALRETHINKING THE STATE—SELECTED EXPENDITURE REFORM OPTIONS». Ainda não o li nem lerei nas próximas horas.

Desde a madrugada que jornalistas, comentadores, porta-vozes dos partidos, informam, comentam, condenam ou colocam preventivamente os corpinhos de fora. Deve ser raro encontrar a esta hora (17:30H) um português que não tenha uma opinião formada e definitiva sobre as propostas do FMI que se estendem pelas 77 páginas do relatório em inglês.

Podia cair na facilidade de citar dezenas de comentários ou opiniões completamente idiotas de gente que não faz a mínima ideia da situação do país e das propostas do relatório, mas não o faço. Em vez disso, cito Pedro Santos Guerreiro, director do Jornal de Negócios, um jornalista competente e informado, que às 13:10 respondia à pergunta na RTP 1 «Globalmente isto é exequível?» com «Na minha opinião não é. Não há condições políticas e sociais para grandes reformas e parece-me que este corte dos 4 mil milhões de euros nunca vai acontecer».


Nunca vai acontecer? Ai vai, vai, poderia dizer Fernando Ulrich do BPI, por várias razões: não há dinheiro e não haverá; não há crescimento e não haverá crescimento suficiente para evitar o que tem de ser feito. Só não sabemos quando e como. Enquanto puderem, o grosso das elites e muitos portugueses podem tentar fazer o que sempre fizeram - adiar. Dito de outra maneira, queimar o tempo e deitar fora, uma a uma, todas as alternativas até só restar uma fatalidade – a pior de todas as alternativas.

2 comentários:

  1. Concordo a 100%! Estou neste momento a ler o PDF, e também me perguntava quantos "opinadores profissionais" já o teriam lido (e compreendido) de fio a pavio. E quem diz "opinadores", diz o cidadão comum. De certeza que não faltará gente a maldizer o documento sem sequer o ter visto...
    Enfim, é por estas e por outras que chegamos onde chegamos...

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  2. Já o li e fiquei espantado com a onda de criticas, já à muito que não lia um documento tão "inocente" e bem fundamentado. Há por ai artigos de opinião, daquelas que é suposto termos em conta, muito mais radicais.

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