18/11/2012

Eles, os jornalistas

Nós, os contribuintes do (Im)pertinências (o Impertinente também subscreve), que não somos jornalistas, nem temos pena, e até roubámos a Baptista-Bastos o conceito de jornalismo de causas para classificar as criaturas que usam a carteira profissional para promover uma ou, mais frequentemente, várias causas, ficámos gratificados pelo facto de José António Saraiva, antigo director do Expresso e actual director do SOL, ter publicado o editorial «Nós, os jornalistas» na passada 6.ª feira. Quase todos os itens da vulgata descrita por JAS ficariam a preceito num manual de agitprop do marxismo-leninismo, o que surpreenderá só os distraídos.



Destacamos o seguinte naco de prosa que subscrevemos na 3.ª pessoa do plural:

«Há pessoas a dizer que já não ouvem os telejornais e evitam ler jornais.
Umas por acharem que somos tendenciosos, outras por já não terem paciência para as noticias negativas ou por entenderem que os noticiários só contribuem para a depressão.
É lá com elas.
Nós achamos que as más notícias vendem mais, sobretudo quando as pessoas andam revoltadas com o Governo.
Além disso, nós também não gostamos deste Governo e faremos o que for possível para o fragilizar.
Porquê?
1 - Porque, sendo nós maioritariamente de esquerda, estaremos sempre contra governos de direita.
2 - Porque o Governo anunciou a intenção de privatizar a RTP, o que desagradou a todos nós: os da RTP não querem naturalmente ser privatizados, os da SIC e os da TVI acham com razão que a existência de mais um canal privado lhes vai roubar audiências e publicidade.
3- Porque, ao contrário de outras alturas, nós também somos directamente afectados por esta política - seja pelo aumento dos impostos, seja pela perda de subsídios, seja pelas ameaças de despedimento.
Ora, enquanto outras classes profissionais tem de protestar na rua (como os polícias) ou fazer greves (como os estivadores), nós, os jornalistas, temos os jornais, as rádios e as TVs para protestarmos.

Para lá de tudo isto, consideramos que o Governo está a arruinar o país, pelo que o seu derrube é uma tarefa patriótica que urge levar a cabo quanto antes.
Um verdadeiro 'serviço público'. Nesta medida, não nos consideramos obrigados a ser independentes, nem a ser rigorosos, nem a cumprir o código deontológico.
Achamos que todas as armas são legítimas para fazer cair um Governo ilegítimo.
Consideramos que, neste caso, os meios justificam os fins. Exultamos ao ouvir Mário Soares dizer que é preciso correr com esta gente quanto antes - e temos um especial gozo em pô-lo a abrir os telejornais.
Pensamos que isso só nos fica bem.»

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