12/09/2012

DIÁRIO DE BORDO: Acabou-se o tempo do governo

Os sinais acumulam-se, não no horizonte, mas mesmo aqui à nossa frente. Acabou-se o tempo do governo. Pode ser que ainda se arraste alguns meses ou até às eleições autárquicas mas deixou de ter condições para fazer as reformas de fundo que até agora mal esboçou e até mesmo para continuar a tomar as medidas tapa-buracos orçamentais.

Há várias razões para ter chegado aqui neste estado, mas politicamente talvez a mais importante tenha sido a falta de clareza durante a campanha eleitoral sobre a situação do país e a severidade das medidas necessárias. Dir-se-á, se o tivesse feito não teria ganho as eleições. Pois não e o país só ganhava em ter o PS a executar o PAEF e as medidas tapa-buracos e a pagar por isso desgastando-se, tal como o PSD está agora esgotado. Em vez disso, temos o Seguro a perorar sucessivamente folgas, crescimentos e todo o arsenal de tretas, enquanto o Costa lhe prepara a cama na sombra, esperando a oportunidade para surgir à luz do dia virgem das responsabilidades endossadas ao estudante de filosofia em Paris, pelo passado cada vez mais esquecido, e ao actual líder, pela oposição frouxa no presente.

Podem acontecer muitas coisas daqui para a frente mas se, como é provável, as reformas políticas na UE indispensáveis para viabilizar o euro continuarem ao menor ritmo possível, apenas para anestesiar os mercados, aumentará a possibilidade de Portugal sair da Zona Euro para substituir a espiral recessiva em que está a cair, arrastado pelas medidas tapa-buracos e a falta de reformas de fundo, por uma espiral inflacionista que imporá as reformas como uma espécie de castigo divino que é a única via para se mudar alguma coisa neste país. Já vimos isso antes, em 1977 e 1980.

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