29/07/2012

Estado empreendedor (65) – o Pavilhão Atlântico e efeito Lockheed TriStar que o governo evitou

Já contei mais de uma vez a história do Lockheed TriStar que me inspirou o efeito com o mesmo nome designando uma estratégia que consiste em torrar mais dinheiro a pretexto de recuperar o dinheiro já torrado. A obra acaba sempre numa perda muito maior do que a já inevitável no momento da decisão de entornar mais dinheiro em cima. Como já recordei, também nós já fomos literalmente vítimas do efeito Lockheed TriStar avant la lettre pela mão do governo Balsemão.

Vem o efeito Lockheed TriStar a propósito da venda do Pavilhão Atlântico, cujo custo de construção em 1998 terá sido de 50 milhões, agora vendido por 21,2 milhões o que foi considerado por alguns um mau negócio. A estória é, porém, muito diferente, como aqui se explica no Blasfémias.

O custo de oportunidade dos 50 milhões será actualmente de cerca de 100 milhões.Considerando uns trocos de receitas obtidas, a venda por 21 milhões significará uma perda de cerca de 80 milhões em 14 anos. É aqui que entra a lógica do Lockheed TriStar.

Se o Estado não vendesse agora iria acrescentar, até ao fim da vida útil do Pavilhão, aos 100 milhões do custo de oportunidade um custo anual de vários milhões de euros deduzido de umas centenas de milhares de receita. Dentro de 10 anos teria perdido uns 160 milhões. Ao vender agora por 21,2 milhões, congela a perda em 80 milhões e faz aquilo que a Lockheed não fez e no final foi forçada a vender metade do volume de break-even a preços de saldo.

1 comentário:

  1. O Pavilhão de Portugal na Expo foi vendido ao consórcio entre a empresa de Luiz Montez e o BES.

    O BES terá afinal financiado a operação através do “fundo de capital de risco BES – PME”.

    O Fundo BES-PME é financiado e apoiado pelo QREN/Compete http://www.pofc.qren.pt/compete/portfolio/fundos-de-capital-de-risco/entity/fundo-de-capital-de-risco--pmebes?fromlist=1

    ou seja a Sociedade Gestora a ES Capital investe em empresas dinheiro que recebe de fundos comunitários.

    Faz esses “investimentos” directamente pela ESCapital (ou ES Ventures), ou indo-se refinanciar ao Fundo de Sindicação de Capital de Risco, que é gerido pelo Ministério da Economia, através da PME Investimentos e do IAPMEI.

    Ora este Fundo Público que sindica as operações de capital de risco neste QREN já se financiou em mais de 200 milhões de Euros, com os quais, sindicou operações em montantes equivalentes http://www.pofc.qren.pt/areas-do-compete/financiamento-e-capital-de-risco/projectos-aprovados/page/1?area=5&search=y

    Na prática a ES Capital, que está sob supervisão da CMVM http://web3.cmvm.pt/sdi2004/capitalrisco/ficha_fcr.cfm?num_fun=%24%23%24%5B%5B%22P++%0A
    recebe pelo menos aquilo que investiu ou emprestou do Estado via QREN Capital de Risco. E ainda cobra operações de gestão, avaliação e os muito naturais spread’s numa época de liquidez reduzida.

    Sabendo-se que o BES está descapitalizado, sabendo-se que é uma operação de risco, nada mais natural que seja o Estado e fundos públicos a garantirem o risco, que o BES e Luiz Montez parecem suportar.

    Afinal tudo está bem quando acaba em bem.

    O sogro de Luís Montez, o Prof. Cavaco com certeza não percebe nem quererá perceber a subtileza desta engenharia financeira, pela qual o Estado vende um bem público único, a privados, que garantem o financiamento e o risco, no próprio Estado.

    É a natureza das coisas. A rentabilidade e o risco que estes “privados” estão dispostos a assumir. O risco de poder lucrar, livrando o Estado de tão grande encargo.

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