«Em Maio de 1981, François Mitterrand - vencendo o incumbente Valéry Giscard d'Estaing - é eleito primeiro presidente socialista da 5ª República francesa. Prometia alargar ainda mais o controle e dirigismo estatal sobre a economia, ameaçava "quebrar o capitalismo", "derrubar o muro do dinheiro" e executar um extenso programa de nacionalizações. Numa altura em que, nos EUA e no Reino Unido, Reagan e Thatcher se moviam em sentido contrário, Mitterrrand servia uma forte mistura de keynesianismo, nacionalismo e controle de estatal.
Prometeu e cumpriu. Lançou medidas de estímulo da economia. Nacionalizou parte substancial da banca (representando 96% dos depósitos), grande parte da indústria (13 das 20 maiores empresas industriais) e tomou posição de controlo em muitas outras. Aumentou as despesas sociais, cortou uma hora da semana de trabalho sem perda de salário, aumentou de quatro para cinco semanas as férias pagas e aumentou em 100.000 o número de funcionários públicos. Aumentou os impostos sobre os grandes rendimentos e lançou fortes e variados estímulos públicos à economia. Era "La relance".
Em pouco tempo, lançou o pânico nos mercados, provocou o assalto ao franco, disparou a inflação, suscitou a fuga de capitais e arrastou a redução das receitas públicas. Ao contrário do que pretendia, aumentou o desemprego e as empresas nacionalizadas começaram a ter enormes prejuízos. A bancarrota ficou à vista. O franco foi desvalorizado três vezes.
A festa não durou dois anos: apenas 21 meses. Em Março de 1983, o franco foi encostado à banda baixa do sistema monetário europeu e aproximou-se da saída. Valeu Delors, negociando um compromisso com a Alemanha para a revalorização do marco e desvalorização do franco.
Acabou a "La relance". Começou o processo de desnacionalização. A linguagem mudou: à "quebra do capitalismo" sucedeu: "modernização", "dinâmica industrial" e "tournant rigueur".
A economia francesa saía fortemente enfraquecida da aventura e, durante muito tempo, só a excepcional capacidade e patriotismo de Delors à frente da Comissão Europeia permitiu mascarar a perda de capacidade negocial da França face ao gigante alemão.
Agora em 2012, como então, a implementação do programa socialista vai contribuir para a diminuição da capacidade negocial da França. Desta vez nem seriam necessários os 21 meses da experiência Mitterrand.»
Avelino de Jesus, «A virtuosa vitória de Hollande», no negócios online
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