Portugal não é um país normal também a este respeito, porque o verdadeiro problema não é geralmente «o problema». O verdadeiro problema é a medida, segundo um certa métrica, duma coisa que não se sabe se é um problema ou, sabendo-se, não se conhece a sua gravidade. E porquê? Há vários porquês, mas hoje vou só exemplificar, mais uma vez, o porquê relacionado com tabuada.
Veja-se o caso da dívida das autarquias. Primeiro, Miguel Relvas diz numa aula aberta do ISCSP (esqueçamos uma coisa destas ter sido dita por um ministro em tais circunstâncias) que a dívida total dos municípios e das suas filhas empresas municipais (os tais expedientes para nomear dezenas de administradores e encavalitar tenças) seriam de 12 mil milhões, incluindo uma dívida de curto prazo de 3 mil milhões. Há menos de 2 meses, o mesmo ministro ainda só tinha encontrado 1,5 mil milhões, isto é metade da dívida de curto prazo.
Pouco depois da aula aberta, o vice-presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses dizia ser a verdadeira dívida não mais de 7,8 mil milhões e que, portanto, tinham enganado o senhor ministro ao acrescentar mais metade (repare-se na recorrência do rácio de aproximação).
Ainda algumas horas depois, Fernando Ruas, o presidente daquela Associação, exprime o seguinte pensamento que deveria ser registado e arquivado no Torre de Tombo na secção Anais Sobre a Relatividade dos Números:
«Admito (que sejam os 12 mil milhões), como admito o contrário, de ser menor. Acho é que é determinante saber-se exatamente qual é a dívida dos municípios, e é a essa que vamos dar resposta. Admito qualquer possibilidade.»Não é por acaso que o doutor Fernando Ruas chegou onde chegou. Ele já se evadiu dos espaços euclidianos e paira em outras topologias fora do alcance dos leigos que vão pagar os n mil milhões, qualquer que seja o valor de n.
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