O que mais me espanta não são os truques compulsivos de Silva Pereira, umas vezes a mentir descaradamente, outras - mais frequentes porque o homem não é estúpido – a dizer mentiras que trazem à mistura alguma coisa de verdade, como o poeta Aleixo classificava as mentiras com mais alcance e profundidade. O que mais me espanta é a incapacidade do PSD para desmontar esses truques e o silêncio resignado de alguma gente honrada que ainda possa ter ficado perdida no aparelho socialista, depois da sua ocupação pelo socratismo.
Desta vez o ajudante de José Sócrates, multiplicando-se em entrevistas à Renascença e à TVI, usando os restos da central de manipulação que ajudou a montar, desmente o governo garantindo que não há nenhum sítio do MoU, assinado também pelo PS, onde «se diga que a consolidação orçamental tem de ser feita em 2/3 pelo lado da despesa».
Ora a verdade é que à letra ele tem razão. Isso não é dito no MoU. O MoU apenas diz que o défice de 2010 não pode ultrapassar 7.645 milhões de euros e para tal lista um conjunto de medidas que «serão definidas na lei do orçamento de 2012 (4T 2011), a menos que especificado em contrário». Esse conjunto de medidas listadas nos itens 1.7. a 1.25. totalizam pelo lado da redução da despesa 3.275 milhões de euros e pelo lado do aumento das receitas 1.535 milhões de euros. Ou seja, as medidas que MoU obriga a serem tomadas em 2012 para reduzir o défice em 4.810 milhões de euros, «a menos que especificado em contrário», são 68% pelo lado da redução da despesa e 32% pelo lado do aumento da receita.
Dir-se-á que perante estes factos, nomeadamente pelo facto de 68% ser maior do que 2/3, ficaria exposta a distorção mentirosa de Silva Pereira. Ficaria, mas não fica, porque o homem conta com a ajuda duma mídia incompetente ocupada pelo jornalismo de causas, para o qual uma mentira pode ser aceitável se ajudar uma «boa causa»; conta com o aparelho do PS a contar os dias que faltam para voltar a fruir as mordomias perdidas; conta com a ajuda da inércia e negligência das hostes do PSD e a oposição interna mais interessada em trinados e gorjeios demonstrando «independência de espírito» do que noutra coisa e conta com uma opinião pública acrítica.
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