«Portugal é o campeão do rácio energia renovável/consumo médio e na relação eólica/consumo de vazio de verão estamos em segundo lugar, o que levanta o problema do que fazer a tanta energia. Criou-se um novo monstro.
A APREN encomendou a uma consultora, 'treinadora' da EDP, um estudo sujeito à máxima 'quem paga, encomenda o resultado'. É um exercício de publicidade enganosa. Apenas três observações: ao contrário do dito, o preço médio pago pela eólica continua a ser superior a €90 Mwh, embora as novas entrem a preço mais baixo; nas renováveis intermitentes, o que é esquecido no estudo, ao preço político da tarifa há que acrescentar os sobrecustos sistémicos da térmica de back up (de dia quando não há vento) e da bombagem (à noite para acumular a energia excedentária), havendo pois um triplo investimento; os actuais e grandes parques eólicos, bem como as grandes centrais solares da época Pinho, exigem vultuosos investimentos nas redes de transporte, e não têm a 'beleza' das pequenas renováveis do meu tempo, junto do consumidor ou embebidas nas redes de distribuição, poupando no transporte, como o estudo insinua.
As centrais térmicas deveriam trabalhar pelo menos 7000 horas/ano. Agora, funcionando apenas como apoio às eólicas, ficam por metade, o que não chega para cobrir os custos fixos do investimento. O excesso eólico leva assim a que se pague sempre a eólica produzida, consuma-se ou não, e depois ainda se pague através de uma vergonhosa 'garantia de potência' esses custos fixos para ver as térmicas paradas ou subutilizadas!
Por outro lado, as centrais da EDP sujeitas aos CAE (já aqui explicados) passaram para os CMEC, fazendo ofertas no mercado grossista, em que se simula o funcionamento em mercado livre, mas tendo um mecanismo de compensação que lhes permite a recuperação do investimento feito, no caso de terem cash flows inferiores aos obtidos nos CAE.
Então, por causa da eólica, a capacidade instalada é pouco utilizada, os custos fixos destes investimentos ociosos evidenciam-se e os custos dos CMEC disparam.
A EDP tem beneficiado enormemente disto e por uma complexa engenharia financeira (em que se tornou especialista) ganhou na secretaria um balúrdio, pois em termos económicos tal significava que estava a ser remunerada a 8,5% em activos cujo custo de capital era inferior a 5%. Quando for grande, também gostaria de ter esta renda de situação para parecer um grande gestor...
Também é condenável o preço político pago às cogerações (produção simultânea de electricidade e calor) a fuelóleo (!) e às falsas cogerações (que só produzem electricidade), tendo-se esquecido os coeficientes técnicos entre electricidade e calor que eu tinha imposto.
O monstro criado dará aumentos de preços superiores a 30% este ano, se não for domado. Este Governo, forçado a asfixiar com impostos a classe média e os pensionistas, terá coragem para o domar como recomenda a troika e o conselho tarifário?»
Luís Mira Amaral, no Expresso de 15-09
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