Repetindo-me, a quem ficou calado durante 6 anos, assistindo silencioso, impávido e sereno ao crescimento da despesa e da dívida públicas, é difícil de aguentar sem reacção a verborreia dos últimos meses e em particular dos últimos dias a propósito do corte de 2 meses nos salários dos funcionários públicos e dos reformados, minando o terreno ao governo.
Podia enveredar pelo caminho do assassínio de carácter, baseado em factos geralmente conhecidos e outros menos conhecidos, classificando Cavaco Silva como um homem prepotente sempre que julga ter as costas quentes, como agora com o PSD no poder dando um púlpito à tralha cavaquista. E como um homem com grande falta de coragem quanto tal não acontece e tem que enfrentar seja uma aula de alunos contestatários durante o PREC, seja o animal feroz Sócrates e os seus cães-de-fila, e nestas circunstâncias mete o rabinho entre as pernas e ensaia a vitimização.
Podia ir por aí, mas não vou (além do que já fui, claro). Vou apenas fazer algumas perguntas ao antigo primeiro-ministro que criou as bases para a pletora da máquina estatal e ao presidente da República tornado co-responsável por inacção e silêncio pelos défices e dívida monstruosos. Sem esquecer ter sido beneficiário de um aparente enriquecimento sem causa com a venda e compra de favor de acções do BPN. BPN cujas fraudes, em que estiveram envolvidos várias pessoas dele próximas, só por si significaram rombos no orçamento de vários milhares de milhão de euros correspondentes a uma parte significativa dos cortes que ele agora contesta.
Se o corte dos 2 meses aos funcionários públicos e reformados, de que resultará a redução da despesa pública, é um imposto e constituiu «violação de um princípio básico de equidade fiscal» como é que ele se fosse primeiro-ministro atingiria o défice negociado com a troika? Aumentando em montante equivalente a carga fiscal sobre os trabalhadores do sector privado e ampliando a falta de «equidade salarial» em relação aos funcionários públicos que já têm salários superiores em empregos vitalícios? Aumentando a carga fiscal sobre as empresas e reduzindo ainda mais a sua competitividade?
E porque não propõe em troca o despedimento 50 a 100 mil funcionários públicos que teria o mérito de mostrar uma coragem que nunca se lhe viu, preservando ao mesmo tempo a sua estimada «equidade fiscal»?
E, já agora, se a coligação PSD-CDS tiver a coragem de aprovar no parlamento a «violação de um princípio básico de equidade fiscal» terá Cavaco Silva coragem para enviar o OE 2012 para o Tribunal Constitucional, vetá-lo depois e enfrentar a tempestade financeira que se seguirá?
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