Álvaro Santos Pereira começou mal, muito mal. Começou por não ter percebido a diferença entre a higiene dos papers de macroeconomia e a suja e dura realidade da governação de um país falido, com uma grande falta de iniciativa privada e um grande excesso de iniciativa pública para torrar dinheiro em elefantes brancos. Confirmou o erro de casting e deixou-se transformar no Alvarinho de Viseu. E continua com a mais completa contradição entre as suas soluções teóricas anteriores à sua nomeação e a sua prática de governação, ou mais exactamente as suas declarações, porque governação ainda não se viu.
É mais um caso do complexo de direita, diferente mas comparável aos de Freitas do Amaral e de Basílio Horta, que assustados por serem vistos como de direita acabaram na cama com a esquerda. Com uma doutrina de intervencionismo mínimo do estado na economia, podendo qualificar-se com boa vontade como liberal, ASP está a ir por um caminho que em pouco se distingue dos seus precursores na Horta Seca.
Nos intervalos de declarações enigmáticas sobre os projectos ferroviários, anuncia «alterações profundas ao nível do capital de risco, ao nível da atracção e agilização do investimento, ao nível de reestruturação de empresas, ao nível laboral e ao nível das políticas de emprego».
Anuncia a criação de estrutura de apoio à internacionalização.
Anuncia a reestruturação do capital de risco público
como se as iminências plantadas pelo governo nas EP de capitais de risco sem arriscarem um cêntimo do seu próprio dinheiro fossem capazes de distinguir as oportunidades viáveis das sepulturas de dinheiro.
«Diz estar disponível para ajudar directamente empresas em dificuldades»
enquanto o governo não paga os milhares de milhões de euros de facturas atrasadas aos seus fornecedores.
Não pode acabar bem. Se os seus antecessores ainda tiveram algum dinheiro (e portanto algum poder) para colocar onde estavam as suas grandes bocas, ASP só tem uma grande boca e nenhum dinheiro para lá colocar. Desagrada aos intervencionistas porque não tem dinheiro para torrar nos seus interesses e nos seus delírios e desagrada aos liberais porque diz que vai colocar o dinheiro que não tem onde não deveria, ainda que o tivesse. Vai ser a vítima mais recente da maldição da Rua da Horta Seca.
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