Tal como Nicolau Santos, o pastorinho da economia dos amanhãs que cantavam e agora choram, lamenta no Expresso de sábado, também eu lamento ter o governo depenado «aos contribuintes e consumidores mais 1.500 milhões em 2011, além de tudo o que já estávamos a pagar.» A diferença é que não acho que tal «nos foi imposto pelos troikanos». Não. Tal foi-nos imposto por um governo liderado pelo anterior primeiro-ministro coadjuvado pelo seu ministro das Finanças, cujas botas o pastorinho poliu com zelo, em resultado das políticas adoptadas com a sua benção durante 6 longos anos. Acresce ser a «imposição troikana» um conjunto de medidas acordadas e subscritas por aquelas duas personagens.
Mais triste do que a falta de memória ou de vergonha, escolhei o que vos aprouver, é a falta de discernimento ao concluir as lamentações pela venda de participações do Estado, tornada necessária pelas políticas que abençoou, recorde-se, com um desabafo dilacerante: se a «economia portuguesa já ia em má direcção, agora vai ficar sem os comandos». A criatura não explica como tais comandos a actuarem pelo menos há 36 anos consecutivos não impediram a economia de ir em má direcção e nem uma ténue dúvida perpassa nos seus neurónios sobre se a má direcção não terá resultado precisamente de tais comandos terem estado na mão visível de quem estiveram.
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