«É interessante o cotejo entre espanhóis e portugueses nos últimos dois anos. Eles decidiram, logo no orçamento de 2010, cortar pelo menos 10% na despesa pública. Nós começámos a apertar o cinto (leia-se aumentar impostos) em Maio de 2010. E só depois de a senhora Merkel ter dado um "chega p'ra lá" a José Sócrates. Eles começaram mesmo a cortar despesa em 2010. Nós só anunciámos o corte de 5% nos salários da Administração Pública em Setembro de 2010… para entrar em vigor em 2011 (e mesmo assim só depois de a senhora Merkel ter dito a Sócrates que nos largava aos cães). Eles começaram a fazer reformas estruturais (v.g. lei dos despedimentos) em 2010. Nós esperámos pela imposição da troika. Eles estão a apertar os calos às autonomias (responsáveis por 35% do défice orçamental). Nós colaboramos nos disparates das nossas regiões autónomas (graças a Deus só há duas…).
Eles têm um primeiro-ministro (o tal que anunciou o abandono da liderança do PSOE antes das eleições…) que chegou a acordo com Mariano Rajoy, líder do rival PP, para inscrever na Constituição limites ao endividamento do Estado (convém recordar que estamos a três meses de eleições gerais em Espanha). Nós temos um Presidente da República que, quiçá saudoso dos debates académicos (ou será outra coisa?), diz estranhar a constitucionalização da "schuldenbremse". Ah! E ainda temos um Presidente do Tribunal de Contas que diz que a regra já está escrita na Constituição… material (se a senhora Merkel ouve esta…).
Caro leitor, ainda não percebeu porque é que nós estamos intervencionados e os espanhóis vão resistindo (cheira-me que a Itália ainda cai primeiro que a Espanha…)?»
Nós e os espanhóis, Camilo Lourenço no Negócios online
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