29/04/2011

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: O PS é o partido do Estado e o PSD é o quê?

«Hoje temos mais de 6 milhões de pessoas dependentes de subsídios ou de ordenados da função pública. Seis milhões de pessoas que cativam perto de 87% de todas as receitas do Estado. Chegámos a estes 6 milhões de pessoas com anos e anos de PS e PSD competindo entre si para ver qual deles fazia crescer mais este número de dependentes do Estado e a terem como principal discurso distintivo os benefícios que dariam, caso fossem governo, a estas pessoas e às outras, já poucas que ainda não faziam parte do grupo.

Estes 6 milhões de pessoas que Medina Carreira define como “partido do Estado” não são apenas um problema económico. Elas tornaram-se um problema político, pois para boa parte destes 6 milhões de pessoas as eleições passaram a ser sinónimo de insegurança, daí a sua enorme disponibilidade para apoiarem ou tolerarem quem transmita uma imagem de poder, sobretudo se este poder for exercido com tiques de autoritarismo, coisa que não resolve nada, mas facilita muito a construção de uma imagem de líder.

É fácil e tentador dizer que esta rede de dependentes funciona como o escudo humano de quem está no poder, seja esse poder o do governo central, das autarquias ou o dos governos regionais. Mas essa é apenas uma parte do problema, a que nos diz respeito a todos nós. A outra parte do problema diz respeito ao PSD: o PSD foi tendo um discurso, cada vez menos eficaz, é certo, para estas pessoas, enquanto o argumentário eleitoral se centrou no dar. Agora que se entrou na fase da gestão do medo da perda, o PSD não tem discurso, enquanto o PS, antes pelo contrário, encontrou o que anos de desgaste e escândalos lhe tinham retirado: algo para prometer.

Todos os dias uma notícia, ou duas, ou três, dão conta de que o PSD quer tirar, cortar, destruir… enfim se propõe alterar no sentido da perda aquilo com que contam para a vida. Já o PS diz-lhes que mudará o menos possível e que vai defender o Estado social, uma entidade que se foi tornando tão mais omnipresente nas nossas vidas quanto mais o Estado gastava.

O termo “social” justificou ao Estado o nepotismo, a incompetência, o meter-se onde não é chamado, o despesismo e a corrupção. Sob o chapéu-de-chuva do Estado social, o Estado adopta procedimentos que lhe garantem dinheiro em caixa para o seu expediente, mas que colocam ainda mais em risco o futuro dos portugueses.»


[Helena Matos no Público, ler integralmente no Blasfémias]

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