«Adoro o modo como o Eça escreve sobre comida, é profundamente sensual. Em "O Crime do Padre Amaro", quando ele descreve o som que vem do andar de cima, da saia a roçar o chão...
E a comida, as refeições, é de uma sensualidade... O jantar dos Cohen, o do Jacinto em "A Cidade e as Serras", com o peixe que fica preso no elevador... Muito bem observado. E o jantar dos Cohen é Portugal no seu pior e melhor. E o modo como insultam o país é tão português. Ega fica tão bêbado que grita que o país precisa de uma nova invasão espanhola. E, claro, lá vem a reacção tão portuguesa, o orgulho ofendido, o extremo oposto, o nacionalismo. E no fim a habitual reconciliação na rua. Ninguém sai de uma casa portuguesa dizendo obrigado e boa noite, fechando a porta.
As pessoas abrem a porta e ficam à conversa na porta, na saída. A conversa começa na porta aberta, no corredor. Eu noto que os portugueses continuam a conversa depois do jantar, na porta, na rua. Repare numa reunião de trabalho em Portugal, é sempre um desastre. Ninguém diz nada, o objectivo é perceber o que o outro sabe. Ninguém diz nada, é para inglês ver. Depois da reunião, as pessoas abrem a porta e saem e aí começa a reunião. Na saída, na rua, no passeio... Aí é que as pessoas começam a falar.»
[Alexander Ellis, Embaixador do Reino Unido, proprietário do blogue Um Bife mal passado, em entrevista a Clara Ferreira Alves na revista Única do Expresso]
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