«É evidente que os celebérrimos “mercados” são apenas um bando de abutres especuladores, contra o euro ou contra países vulneráveis escolhidos a dedo que tiram todo o partido que podem da situação». Escrito assim (no Expresso) por Miguel Sousa Tavares, ou de forma parecida por outro, exprime um lugar-comum do bem-pensantismo nacional que não resiste cinco minutos a uma análise minimamente objectiva e se enreda numa insuperável contradição: porquê os «mercados» são agora um «bando de abutres especuladores» depois de terem sido durante anos um bando de pacíficas pombas que nos emprestarem dinheiro a juros de ocasião?
Seja como for, dando de barato a tese de MST e de muitos outros, perguntemos: e no caso português quem são concretamente esses abutres especuladores? Sabendo-se que faz meses que a banca internacional praticamente deserta os leilões da dívida pública, quem compra é essencialmente a banca portuguesa a quem o Estado pagará os juros às taxas que resultarem dos leilões. Banca portuguesa que se apressará a oferecer como colateral os títulos acabados de comprar para obter financiamento do BCE a taxas que são uma fracção das taxas que o Estado lhes pagará com o dinheiro dos sujeitos passivos. Moral da história, se uma história destas pudesse ter moral: os mais importantes abutres especuladores são os bancos portugueses.
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