27/10/2010

ESTÓRIAS E MORAIS: Queixar-se de barriga cheia

Estória

Ao fim de muitos anos de limitação da abertura das grandes superfícies aos domingos e feriados, o governo percebeu (ou não percebeu, mas cedeu às pressões dos grupos de distribuição) finalmente que essa limitação não tinha efeitos na protecção do comércio tradicional. Condenado a prazo, com ou sem abertura das grandes superfícies aos domingos e feriados, o pequeno comércio está limitado a longo prazo a alguns nichos muitos especializados e, frequentemente, a uma clientela sofisticada e com poder de compra suficiente para pagar o prémio dum serviço personalizado e de qualidade. Acontece que o pequeno comércio fez tudo menos caminhar para esta conversão indispensável e continuou a oferecer uma gama generalista de produtos sem diferenciação, sem qualidade de serviço e com preços mais elevados.
Aparentemente a ampliação do horário teve sucesso e os hipermercados que já a adoptaram tiveram no domingo passado uma grande procura. Toda a gente parece ter ficado satisfeita - quem sabe se os pequenos comerciantes também aproveitaram a ocasião para fazer compras? Toda a gente? Não. Há pelo menos duas almas ouvidas pelo Diário Económico que ficaram traumatizadas. Uma economista disse «tínhamos conseguido algum nível de desenvolvimento, podemos dizer que é um critério as pessoas poderem ter um convívio familiar mais alargado e isto é andar para trás, diz enquanto empurra o carro de compras cheio até cima». Um técnico de telecomunicações disse «foi traumático».

Moral
A abertura aos domingos das grandes superfícies não prejudica os pequenos comerciantes, mas pode prejudicar a saúde mental dos pequenos patetas que se queixam das oportunidades que lhes oferecem.

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