23/09/2010

O jornalista de causas tantas vezes vai à fonte que um dia fica lá


O que acontece hoje é vermos jornalistas que vão para assessores e depois voltam para as redacções, fazem comissões na política e regressam ao jornalismo, são todos muito amigos uns dos outros... portanto o que há é conversas. Os políticos hoje têm uma porta de acesso tão fácil aos jornalistas que é quase como se fossem de casa, de amigos.

P: Isso é uma promiscuidade...
Não acho que seja promiscuidade. O que acho é que a política hoje se joga muito na comunicação social e sobretudo na televisão. Portanto os assessores escolhidos, por exemplo, são pessoas que dominam o meio.

P: E como se resiste a isso na prática do jornalismo?
Conversa-se. Nós sabemos que no jornalismo de hoje muitos jornalistas têm acesso a fontes e a histórias que não podem contar por serem amigos... Infelizmente é assim.

P: Tem uma visão desiludida da profissão?
Sim, estou um bocado desiludido. Enfim... quando digo isto não quero dizer que estou fora do baralho. Também cometo erros. Mas a verdade é que quando comecei no jornalismo, nos anos 80, as relações dos jornalistas com o poder político e económico não eram assim. Até porque as coisas mudaram, com os grandes grupos económicos envolvidos nos media. E os políticos perceberam que tudo se joga na comunicação social, portanto chamaram para o seu lado muitos jornalistas. Isso gera uma intimidade entre classes que joga a favor de todos nos interesses, mas que também prejudica todos na essência do que é o jornalismo e do que é a política ou a economia.

P: E onde é que fica o jornalismo no meio de tudo isso? Não existe?
O jornalismo faz-se à conta de fontes, de amigos. Os jornalistas hoje quase não têm de investigar porque as coisas vêm ter com eles. O que é preciso é mantermos um determinado equilíbrio entre regras éticas e alguma noção do que é o jornalismo. Isso vai-se conseguindo. A nós compete-nos depois contar bem as histórias.

[Excertos da entrevista de Júlio Magalhães ao i online]

Em rigor o jornalismo pós-moderno descrito na entrevista, que julgo corresponde à prática dominante na comunicação social portuguesa, tem pouco a ver com o jornalismo clássico. É mais spinning, o que faz dos jornalistas pós-modernos spin doctors.

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