26/07/2010

SERVIÇO PÚBLICO: Testes de (pouca) resistência

aqui confessei a minha pouca fé a priori nos testes de resistência dos bancos europeus cujos resultados foram divulgados na passada sexta-feira. Fé a posteriori ainda enfraquecida pelas seguintes razões:
  • Multiplicação das declarações antecipadas de regozijo e confiança de dirigentes políticos e do FMI sobre os putativos resultados dos testes ainda em curso;
  • Falta de garantias de independência do pool de entidades que organizou os testes: Comissão Europeia, BCE e um obscuro Comité de Supervisores Bancários Europeus sedeado em Londres;
  • Dúvidas sobre a resistência de vários bancos centrais às pressões políticas e ao «imperativo moral e patriótico» de reforçar a confiança dos mercados;
  • Dúvidas sobre a suficiência do grau de stress do pior cenário dos testes devido a:
    • Critério adoptado para os riscos da dívida soberana que apenas foram considerados no caso da dívida classificada como activos detidos para negociação ou disponíveis para venda (trading book), estimados em menos de 1% dos activos totais (1); não foi considerado o risco da dívida pública classificada como investimentos a deter até à maturidade (banking book) (2);
    • Na situação de forte exposição às dívidas públicas dos PIGS e com 38 dos 91 bancos considerados nos testes a receber assistência financeira dos respectivos governos, apenas 7 bancos não passaram;
    • Desses sete, cinco são caixas espanholas, a maioria das quais se sabe que estão falidas, empanturradas duma mistura explosiva de créditos à habitação e à construção em stock sem compradores;
    • Apenas um dos seis bancos gregos testados não passou, apesar de todos estarem atulhados de dívida pública grega;
    • Apenas não passou um dos bancos alemães (Hypo Real Estate) já intervencionado pelo governo; passaram todos os landesbanks testados sabendo-se que a situação destes bancos é em geral reconhecidamente débil;
  • Ainda dúvidas sobre a insuficiência de capital estimada em apenas 3,5 mil milhões, quando se sabe que o Goldman Sachs estimou antes dos testes dez vezes mais (38 mil milhões);
NOTAS:
(1) No caso português as exposições estão disponíveis no documento do BdeP e pode constatar-se que as classificadas como trading book são bastantes superiores à média europeia o que significa que os resultados dos testes merecem, em princípio, maior confiança; note-se que, diferentemente, os melhores resultados do BPI provavelmente dependem em grande parte do critério de classificação da dívida pública em carteira - banking book na quase totalidade.
(2) Deste critério resulta que as eventuais imparidades só são reconhecidas e têm impacto nos resultados no vencimento da dívida, salvo no caso de venda antecipada em que todos os activos da classe têm que ser reclassificados como disponíveis para venda e reconhecidas as imparidades. Não é difícil de perceber que, no caso de ameaça de default da dívida soberana de um país, o banco se vê confrontado com um dilema temível: vender títulos a preços de saldo, reconhecer as imparidades de todos os activos desta classe e registar nesse ano perdas consideráveis ou esperar pela maturidade e ficar em carteira com junk bonds e registar a prazo perdas eventualmente ainda maiores.
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