As dificuldades com a aritmética não se limitam às matérias eleitorais, ainda que nesta área o handicap nacional seja preocupante, como se viu pela contagem de um milhão de recenseados em excesso dos maiores de 18 anos ou pelas previsões dos resultados eleitorais feitas pelas agências de sondagens. Embora neste segundo caso com a desculpa da complexidade dos processos estocásticos e do intrincado da teoria da amostragem poder ser um desafio excessivo para as sinapses dos nossos técnicos.
Também no domínio da segurança a inumeracia dita a sua lei dos grandes números (*). Segundo a Associação Sindical dos Profissionais de Polícia deveria haver 14 mil polícias na cidade de Lisboa, que tem menos de 700 mil habitantes, e onde só existirão 7.500 a 8.000 agentes. Repare-se, só a amplitude do intervalo da estimativa da associação seria suficiente para policiar umas quantas freguesias. Em Santa Catarina, por exemplo, os 500 polícias poderiam prestar um serviço quase personalizado aos cerca de 5.000 habitantes.
Se os 14.000 são necessários na cidade de Lisboa, teríamos 2.000 polícias por 100 mil habitantes o que daria o espantoso número total de 200.000 polícias necessários no país. Com 2.000 polícias por 100 mil habitantes teríamos o triplo do rácio do país mais policiado do mundo e atingiríamos o estado supremo do Estado Social: o estado policial. Poderá assim concluir-se que os nossos polícias são suspeitos de ter quase tantas dificuldades com os números como as luminárias das agências de sondagens.
(*) Não me refiro ao teorema de Bernoulli, mas a uma outra lei com o mesmo nome que acabei de descobrir: se não conseguimos estar aproximadamente certos podemos estar redondamente enganados.
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