Pensava eu, há dois dias. Entretanto, João Cravinho, a quem os resultados das eleições parecem ter tido efeitos semelhantes à revelação do 3.º segredo de Fátima, desdobrou-se hoje em reflexões no seu programa da Rádio Renascença, deixando adivinhar a naifa debaixo dos folhos.
«Sócrates sozinho já não chega. Tem que estar com mais alguém, vários que dêem a noção de que a política que se vai seguir na próxima legislatura não é a política de um homem só. … A ideia de que o PS ficaria sempre à frente, se ganhava com maioria absoluta ou relativa, estas eleições colocaram as coisas de um modo radicalmente diferente. … As eleições legislativas estão de tal maneira próximas que, de facto, não é altura de comprometer definitivamente o país por dois ou três meses de pura ânsia e sofreguidão num caminho que depois pode ser muito difícil. … Um Governo num país democrático não pode fazer quero, posso e mando. Dizer “eu tenho a minha vontade e porque tenho maioria e dentro de duas semanas já não a tenho, vou usá-la hoje para criar obrigações contratualizadas” que, no fundo, se o futuro Governo ou se o país quiser desfazê-las então paga um balúrdio tal que, aí sim, coloca o país de tanga.»
[Não estou a comparar Cravinho com Brutus – uma personagem tragicamente íntegra – e muito menos Sócrates com Júlio César. Se quisesse comparar Sócrates a um césar, ocorrer-me-ia eventualmente Nero.]
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