«Salman Rushdie publicou os “Versos Satânicos” há vinte anos. Os líderes religiosos do Irão consideraram que o livro ofendia o Islão e condenaram-no à morte.
Muçulmanos britânicos queimaram cópias da obra em fogueiras públicas. No entanto, as elites políticas, intelectuais e os meios de comunicação ocidentais defenderam o escritor, mostrando a sua perplexidade e indignação. Não passou pela cabeça de algum ocidental condenar Rushdie ou o livro.
Quase duas décadas depois, em 2005, muitas vozes nos mesmos países ocidentais condenaram os jornais dinamarqueses por publicarem as caricaturas de Maomé. O governo turco quis impedir o então Primeiro Ministro dinamarquês de ser escolhido para Secretário Geral da NATO, simplesmente por não ter criticado a liberdade de imprensa dos jornais do seu país. No ano passado, uma das maiores editoras norte americanas, a Random House, não publicou um manuscrito por, na opinião de um académico, ser "ofensivo" para a religião muçulmana. Em 2009, os autores ocidentais são menos livres e têm mais medo do que em 1989. Cito (sem traduzir) o que disse recentemente um outro escritor britânico muçulmano, Hanif Kureishi: "nobody would have the balls today to write The Satanic Verses, let alone publish it".»
[João Marques de Almeida, Retrocesso na liberdade, DE]
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