Secção Musgo viscoso
Durante o processo de nomeação como secretário da Defesa de Eisenhower em 1953, Charles Erwin Wilson, que tinha sido presidente executivo da General Motors e à data ainda detinha acções da GM, quando questionado pela comissão de Defesa do Senado sobre os potenciais conflitos de interesse, terá respondido com a maior ingenuidade «what was good for the country was good for General Motors and vice versa».
O que se passou com Charles Wilson, repetiu-se e com muitos outros nos EU e em vários países europeus, onde o caminho clássico se faz das empresas para um cargo público e se regressa ao primeiro no final do mandato. Uma das excepções notáveis é a de Shroeder, que de chanceler passou a presidente da Gasprom, a empresa controlada pelo cartel do czar Putin.
Em Portugal o caminho tem sido mais no sentido partido->cargo público->empresa. São inúmeros os exemplos, e o doutor Coelho, agora nomeado CEO da Mota-Engil, é apenas mais um. Neste caso a ordem dos factores não é arbitrária. É certo que o caminho empresa->cargo público contem potenciais conflitos de interesse. Mas o caminho inverso em que ao quadro político, que fez uma carreira nas bancadas do partido e que nunca manifestou um módico de talento gerencial, se apresenta uma oportunidade numa empresa privada tem fumos de tráfico de influências.
O fumo adensa-se quando a carreira profissional da personalidade em causa se resume a um ignoto lugar de quadro secundarissimo na Carris em tempos longínguos, aonde chegou levado pela mão do aparelho socialista. Mais se adensa quando o core business da empresa que o contratou são as obras públicas, de que o estradista doutor Coelho foi, nem de propósito, ministro. A coisa fica irrespirável quando tudo isto se passa à beira de mais um período desvairado da política de betão.
O facto disto não constituir um problema para o personagem é, em si mesmo, assaz significativo. 4 bourbons, 2 pilatos e 3 ignóbeis são amplamento merecidos.
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