Administrativos ao poder
Jaime Antunes, OJE de 21-02-2008
«DURANTE a tomada de posse do Conselho Distrital de Beja da Ordem dos Médicos foi referido pelo médico Manuel Matias que entre 1985 e 2008 o número de clínicos do Hospital Distrital de Beja desceu de 150 para 108. Curiosamente, no mesmo período, o número de funcionários administrativos passou de 700 para mais de 1200.
Segundo o “Público”, citando dados da Direcção-Geral de Saúde referentes a 2006, a Sub-Região de Saúde de Beja servia uma população de 154 325 habitantes, através de 14 centros de saúde e um hospital. No conjunto existiam 219 médicos, 926 administrativos e 524 enfermeiros.
Apesar da redução do número de médicos, a região de Beja ainda conta com um médico para 704 habitantes e o que é extraordinário tem um administrativo por cada 166 habitantes. Se cada habitante contactar em média os estabelecimentos de saúde uma vez por mês cada funcionário tem de atender cinco pessoas por dia.
Acontece que os médicos que exercem a profissão em Beja, ainda por cima, têm uma idade média elevada o que pressupõe que a tendência de redução deverá continuar nos próximos anos uma vez que, diz o Presidente do Centro Hospitalar do Baixo Alentejo, não é possível atrair novos médicos para substituir os que se reformam.
O Presidente explica também que o aumento do número de funcionários administrativos resulta da necessidade de recrutar pessoal técnico especializado para executar os mais diversos exames médicos.
Com este tipo de explicações está tudo dito: Os médicos em Beja são cada vez menos porque ninguém quer exercer medicina nessa cidade mas os funcionários administrativos são cada vez mais porque têm de praticar “os mais diversificados exames médicos”. Mas se há cada vez menos médicos quem examina os doentes e quem prescreve cada vez mais exames?
Por outro lado, a falta de médicos sente-se mais nas especialidades, nomeadamente endocrinologia, urologia, psiquiatria, oftalmologia, neurocirurgia, neuro-radiologia, otorrinolaringologia, cardiologia e genética médica.
Faltando médicos em todas estas especialidades (só há dois cardiologistas no Hospital de Beja), o que fazem os tais funcionários administrativos especializados cuja contratação justifica? Não sou especialista em gestão de equipamentos de saúde mas suspeito que ainda vamos ter saudades de Correia de Campos e da sua política de racionalização dos recursos existentes no Serviço Nacional de Saúde, que estava apenas a começar. Está à vista de todos que o principal problema do Serviço Nacional de Saúde está na gestão irracional dos recursos ao longo de décadas. Os contribuintes pagam muito por um serviço deficiente em muitas unidades de saúde. No SNS convivem unidades de grande qualidade e profissionais altamente dedicados com outros em que o respeito pelos pacientes é quase inexistente.
E voltando a Beja ainda fico à espera que alguém me explique porque razão são necessários mais de quatro funcionários administrativos por cada médico ao serviço na Sub-Região de Beja. »
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