Está por avaliar o papel que JBC (João Bénard da Costa) tem tido na perpetuação de alguns mitos e na opinião sectária sobre a valia de alguns filmes e cineastas portugueses. Mas, para já, gostaria de deixar aqui uma primeira reflexão sobre as razões que fizeram abortar a ideia de AP (Azeredo Perdigão) ao financiar, sob a forma de capital de risco, um grupo de cineastas que despontavam e aos quais nem o Regime nem o mercado proporcionavam qualquer oportunidade.
Hoje tenho a noção clara de que, se essa iniciativa não deu os frutos que se esperava, foi porque o Estado marcelista, ao criar, nas vésperas do 25 de Abril, o IPC, para tutelar o cinema e financiar directamente os cineastas, veio reforçar a ideia de que não havia um mercado para os nossos filmes e consolidou em todos nós uma mentalidade de assistidos em autogestão. Com isso, cineastas e Estado uniram-se, desde o inicio, numa visão ecológica sobre o cinema português, como se este fosse uma espécie em vias de extinção que urgia proteger dos predadores industriais. Essa trágica visão das coisas, ao invés dos resultados que AP pretendia obter, abortou qualquer hipótese de ver surgir uma rede de produtores responsáveis e de criar uma relação positiva destes com o mercado - as salas e os canais de TV, para os quais se reservou o papel de financiadores compulsivos dos filmes, em vez de os aliciar a serem parceiros activos na sua produção, interessando-os nos seus resultados.
(O velho 'Cinema Novo', de António-Pedro Vasconcelos, no
Sol)
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