15/04/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: o ministro anexo (póstumo)

Secção A título póstumo

Nunca me arrependo de valorizar as criações do doutor Louçã. Uma das mais recentes é o ministro anexo, ou da 25.ª hora - um ministro que não é ministro, mas um oráculo, que concede avales escritos em economês, juridiquês ou noutro dialecto, promessas de amanhãs que cantam do governo. O doutor Louçã cunhou a expressão a pensar do doutor Constâncio, e foi muito bem cunhada. Ocorreu-me, ao ler o longo depoimento «Sócrates: a prova oral» do professor Freitas do Amaral, numa página do Sol deste fim de semana, que a expressão ministro anexo também lhe seria muito bem aplicada, ainda que a título póstumo, por assim dizer.

É difícil fazer melhor. Na extensa e rebarbativa prosa do professor, o panegírico manteigueiro do engenheiro Sócrates é impossível de ultrapassar dentro dos limites da decência, até por um jovem quadro da JS. A síntese do Sol é uma boa síntese: «Quanto ao 'percurso académico' do cidadão José Sócrates, a defesa por ele apresentada foi, não apenas completa e satisfatória, mas mesmo brilhante».

Tenho dificuldade em crer que professor Freitas possa acreditar em todas as coisas patéticas que escreveu, passando ao lado das duas ou três coisas essenciais, a saber: o diploma é ou não legítimo, o engenheiro Sócrates teve ou não uma situação de favor no seu percurso universitário, mentiu ou não em toda esta trapalhada, fez ou não blackmail, desenvolveu ou não acções de ocultação do eventual ilícito.

Embora o professor Freitas já tenha sido premiado várias vezes aqui no Impertinências pelo seu passado e pelo seu presente, seria injusto não lhe atribuir mais uns bourbons, por uma vez mais nada esquecer nem aprender, e uns quantos chateaubriands por usar os seus reconhecidos talentos em causas deste jaez.

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