Ao ler o post do maradona sobre o inspirado pontapé livre de Ronaldinho (vídeo aqui), lembrei-me de What it takes to be great publicado na Fortune há uns tempos.
O jornalista Rob Hughes citado por maradona parece acreditar que o génio de Ronaldinho surge miraculosamente dentro do crânio do homem, por obra e graça do divino espírito santo. Se for assim, peço licença para discordar da luminária. Se a coisa fosse tão simples, da lei dos grandes números deveria resultar que entre o Seixal e Alcochete já teriam surgido um ou dois Ronaldinhos. Suspeito que será preciso acrescentar algo mais. No caso do Ronaldinho, dizem-me, é o seu cão com quem brinca com uma bola de ténis incontáveis horas por dia (os colegas de equipa já não estão para o aturar).
Chegados a este ponto, temos um bom ponto de partida para perceber porque diabo, havendo tanto talento em Portugal e tantas mentes brilhantes à espera de serem descobertas (*), se encontra a pátria em permanente declínio desde o século XVI, com dois curtos períodos que se seguiram à adesão à EFTA no princípio dos anos sessenta e à adesão CEE no meio da década de oitenta (think about).
É aqui que entra Geoffrey Colvin fazendo o ponto de situação das pesquisas sobre a relação entre o talento natural e a excelência no desempenho, seja ele no desporto, nas artes, nas ciências ou no negócio. A conclusão curta e grossa é: the lack of natural talent is irrelevant to great success. The secret? Painful and demanding practice and hard work.
A leitura de «What it takes to be great» pode assim ajudar a perceber melhor que uma cultura que desvaloriza o esforço, o trabalho duro, o saber fazer, a procura (obsessiva) da excelência, os resultados práticos e privilegia a oratória, os elaborados rendilhados intelectuais, a elegância imaterial do processo contra a rude materialidade do produto, dificilmente transforma talentos naturais em grandes performers. Mais facilmente transforma talentos naturais em brilhantismos pueris e amaneirados. E sem ovos não há omeletas, ou sem grandes performers não há grandes performances.
(*) Como nos recordam todas as semanas as inumeráveis páginas do Expresso e do seu alter ego Sol, onde jornalistas separados à nascença se esfalfam por melhorar a nossa auto-estima.
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