A propósito do desemprego e da inflexibilidade das leis laborais transcreve o Blasfémias um comentário de Jorge A. de onde respigo a seguinte passagem: «não acredito que a aversão ao risco dos portugueses, seja maior que noutras sociedades, simplesmente o risco cá é maior. As leis que regem o mercado de trabalho é que deviam mudar radicalmente».
Nada mais errado. Não é por acaso que as leis laborais portuguesas são o que são. Elas são assim porque a aversão ao risco dos portugueses não é apenas maior do que noutras sociedades, ela é uma das maiores do planeta, como demonstraram os estudos de Geert Hofstede (*) a que o Impertinências já fez referência várias vezes (por exemplo aqui). E o risco, isto é a combinação da probabilidade dum evento e das suas consequências, por cá não é maior, é menor, porque a probabilidade de perder o emprego é baixa e as suas consequências são mitigadas por um generoso esquema de subsídio de desemprego.
Se ser uma das sociedades com maior aversão ao risco não fosse tragédia suficiente, a sociedade portuguesa acumula com o facto de ser uma sociedade tão colectivista como as asiáticas (que têm uma aversão ao risco menor, ou mesmo geralmente muito menor, do que a portuguesa).
É por isso que os portugueses apreciam tanto o liberalismo como a sarna.
(*) Em boa verdade, o trabalho de Hofstede só confirma o óbvio ululante que resulta da observação do estereotipo do trabalhador luso.
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