23/07/2006

SERVIÇO PÚBLICO: É isto surpreendente? Não de todo.(2)

Não tem solução? Tem sim senhor. Tem a solução que as organizações com sucesso aplicam. Perguntem a quem sabe. Terminava assim o post de há dias sobre a pletora de utentes da vaca marsupial pública que o governo do engenheiro Sócrates vem alimentando, enquanto entretém a imprensa com anúncios dos amanhãs que cantam.

Se há organizações que pouca gente considera de sucesso aqui no burgo são as seguradoras, o patinho feio dos serviços financeiros. Enquanto a banca resplandece de eficiência e lucros, as seguradoras empalidecem na sombra do seu cinzentismo e dos seus lucros medíocres. Por isso, se comparasse as resplandecentes organizações bancárias geridas por mediáticas luminárias com o monstro do doutor Cavaco, o estado napoleónico-estalinista, todos os que me lessem não me levariam a sério (ainda me levariam menos a sério).

Ilustre-se o crescimento do monstro desde 1986 usando o gráfico seguinte do doutor Frasquilho publicado recentemente no Jornal de Negócios:


Compare-se com a evolução do mercado segurador português no mesmo período. Qual era a situação em 1986? Um pouco parecida com a do monstro: uma maioria de empresas paquidérmicas, com destaque para as empresas públicas que controlavam 80% do volume da facturação. O volume dos prémios brutos emitidos era então de PTE 114 mil milhões, o que a preços correntes de 2005 valeria hoje Eur 1,7 milhões. Para atingir esse volume de produção, as seguradoras precisaram nesse longínquo 1986, ano da entrada na comunidade europeia, de cerca de 14.000 trabalhadores, incluindo songamongas parecidos com os seus homólogos utentes da vaca.

Em 2005, menos de 20 anos depois, com as empresas públicas representando um pouco mais de 20% do mercado (1), cerca de 10.500 trabalhadores, incluindo ainda os songamongas sobreviventes, produziam Eur 13,6 mil milhões. Dito de outro modo, a produtividade medida por PBE/trabalhador a preços de 2005 aumentou de Eur 118 mil para Eur 1,3 milhões, isto é 11 vezes, a um ritmo anual superior a 10%.(2)

Imagine-se os serviços do estado a serem geridos pela cinzenta mediocracia seguradora, a enfrentarem a concorrência, a lutarem pela sobrevivência e a prestar contas a accionistas. É preciso acrescenter mais alguma coisa?

Notas soltas:
(1) Já tinha sido menos, mas com as manobras dos governos do engenheiro Guterres e do doutor José Manuel, a Mundial Confiança, primeiro, e a Império e a Bonança, depois, foram re-nacionacionalizadas e empurradas para dentro do paquidérmico grupo Caixa.
(2) Os puristas poderão dizer que as coisas não são comparáveis, o que é verdade, porque o ramo Vida, que aumentou a sua quota de menos de 10% para quase 70%, com as suas operações de capitalização, PPRs, etc., é muito menos mão-de-obra intensivo e o recurso ao outsourcing aumentou. Poderão dizer, mas deverão calar-se perante o aumento de 11 vezes da produtividade e da redução drástica do rácio de despesas.

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