Na semana que antecedeu as eleições para escolher o sapo que devemos engolir, como por acaso, o governo anunciou uma profusão de novos (e velhos, como o da refinaria em Sines) projectos de investimento que vão desde o turismo ao mobiliário, passando pelas energias renováveis e não renováveis e, last but not least, por levar o evangelho das TI segundo Bill Gates a 4.500 electronicamente ignaros trabalhadores têxteis, desempregados pela acção do exército do lumpenproletariat amarelo.
Para começar pelo fim, é preciso muita fé para imaginar o sucesso desta conversão de 4.500 trabalhadores, na sua maioria desprovidos das competências mínimas exigidas pela maioria das profissões onde hoje se podem encontrar empregos. Mais fé ainda carece acreditar no milagre que seria conseguir uma «certificação reconhecida no mercado de trabalho no final das acções», como o doutor Nicolau Encomiástico Santos escreve na sua 5.ª coluna no Expresso.
Em contrapartida não é preciso nem um grama de fé para acreditar na racionalidade da decisão da Ikea de investir em Portugal, em vez da Espanha que pratica o dobro dos salários, 32 milhões de euros numa fábrica de produtos para exportação desenhados na Suécia, que serão fabricados segundo o processo de produção montado na Suécia, e vendidos com o marketing concebido na Suécia. Também não custa acreditar na racionalidade da Ikea investir em Portugal cerca de 15 vezes mais (470 milhões de euros) em espaços comerciais para vender os produtos que importa, que, para bem dos consumidores portugueses, têm virtualidades de arrumar várias Moviflores duma assentada. Não sendo caso para lamentar, também não se vê razão para celebrar com tanta alegria um investimento estrangeiro que vem na mesma linha que nos conduziu ao ponto em que estamos hoje.
Havemos de ver quantos destes investimentos se irão de facto confirmar, descontados os sound-bites eleiçoeiros.
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