Na sua coluna «Choque e Pavor» no Expresso, lugar geométrico de indignações, o doutor Daniel Oliveira desta vez indigna-se com os ataques que o Estado (com maiúscula), por essa Europa fora, faz aos direitos dos fumadores, que ele com ímpeto fundacional enumera assim:
1. Fumar é um direito. A saúde é um bem individual e a forma como cada cidadão a trata apenas a si próprio diz respeito.
2. Os fumadores têm direito a espaços dignos, arejados, confortáveis e asseados para fumar nos locais de trabalho e em todos os espaços onde sejam obrigados a permanecer por tempo prolongado.
3. Os fumadores são consumidores e contribuintes com direitos. Devem pagar um preço justo pelo tabaco e este deve ser taxado de forma razoável. O Estado não deve beneficiar para lá do que é normal das dependências de qualquer cidadão.
4. Os fumadores não podem ser ofendidos na sua dignidade em nenhuma campanha patrocinada pelo Estado. Devem ser informadas dos riscos inerentes ao consumo de tabaco sem o recurso a linguagem alarmista, moralista e ofensiva.
Distraído pela sua indignação, o doutor Oliveira não repara que, segundo a doutrina que partilha com o Bloco de Esquerda, a saúde não respeita ao cidadão mas ao Estado (com maiúscula), que é quem lhe paga, com o dinheiro extorquido aos não fumadores, o exercício dos seus direitos a fumar. Como não repara que, para ter direito «a espaços dignos, arejados, confortáveis e asseados para fumar nos locais de trabalho», o Estado deverá garantir-lhe o emprego que as empresas privadas, sem esses «espaços dignos, arejados, confortáveis e asseados», não lhe irão oferecer.
Também não nos esclarece sobre como e quem fixará o «preço justo», já que a «taxa razoável» todos sabemos que será proposta pelo grupo parlamentar do BE. Talvez o «preço justo» possa também resultar duma proposta do BE para nacionalizar a Phillip Morris.
O doutor Oliveira também não se digna explicar-nos a razão porque se indigna por esta «campanha patrocinada pelo Estado», quando outras campanhas com o mesmo patrocinador o deixam indiferente ou até alegre, como a campanha para divulgar na internet a informação fiscal dos cidadãos que contribuem para pagar o direito dos fumadores a ser tratados dos seus enfisemas e dos seus cancros.
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