Sou um leitor compulsivo da coluna Pluma Caprichosa que a doutora Clara Ferreira Alves alimenta todas as semanas na Única do Expresso. É a minha inclinação sado-maso. É um misto de atracção, pela impertinência, e repulsa, por aquele lunatismo residente em que se consome a nossa intelectualidade.
A semana passada a doutora Clara escreveu em tom patético sobre os cortes de verba, ou o envelope financeiro, para escrever em europês, do Pousal na Malveira, instituição da Santa Casa da Misericórdia que abriga os «que não conseguem caminhar pela vida fora sem a muleta da acção social e da solidariedade», que é para isso «que o Estado existe e tem de continuar a existir».
A que se deve, segundo a doutora Clara, a «recentragem» das verbas (dialecto solidariedês)? A uma confusão de prioridades do governo que administra o estado napoleónico-estalinista? À insaciável voracidade do «monstro» do professor Cavaco que consome todos os recursos do país? À incompetência da trituradora que desperdiça o dinheiro dos impostos esportulados aos contribuintes?
Nada disso. «O Pousal é a prova de que o liberalismo que quer retirar o Estado disto tudo é, apenas, a teorização da estupidez e da força bruta de quem é válido e se julga imortal.» Traduzindo do intelectualês, para a doutora Clara o liberalismo é uma avaria do colectivismo que o impede de cumprir a sua missão assistencial. Começámos no patético e acabamos no lunático, as usual.
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