30/09/2005

BLOGARIDADES: não é certamente por acaso

Não é certamente por acaso que nessa coluna aí à direita o único blogue residente da esquerdalhada lato sensu é A Praia. Lato sensu, note-se, porque A Praia parece pertencer ao departamento da esquerda inteligente, o que o define como uma variedade exótica da esquerdalhada. Exótica, ameaçada e em vias de extinção.

Se dúvidas houvesse, ficariam descartadas depois de ler este extraordinário email que o Ivan publica. Afastada, por definição, a hipótese de dificuldades de discernimento, a publicação duma mensagem tão ironicamente corrosiva a respeito do próprio só pode atribuir-se a uma de 3 possibilidades:

1) a mensagem é inventada e eu tenho que tirar-lhe o chapéu por estar à altura de inventar uma deste quilate e auto-ironizar-se sem piedade (coisa que a maioria morre sem conseguir)

2) a mensagem é real e o Ivan até concorda com os juízos (nem sempre benignos) que a seu respeito lá se expõem, e eu tenho que me curvar pelo notável e raro conhecimento de si próprio (coisa que a maioria morre sem atingir)

3) a mensagem é real e o Ivan, apesar de não concordar com aqueles juízos, publica-os e eu sou obrigando a reverenciar a sua audácia (doença de que a maioria não morre).

Seja como for, ganhou o direito vitalício a residir na coluna da direita.

(Sem dispensar a leitura integral do email, veja-se esta pérola: «Eu tinha uma certa simpatia por si, tanto que cheguei a votar na Política XXI (também, eram umas eleições sem importância nenhuma, não se decidia nada). Mas, de certa maneira, para dizer com franqueza até simpatizo mais consigo por ter desaparecido.»)

Declaração de não conflito de interesses: não conheço o Ivan, nunca falei com ele, nunca o vi, nem mesmo na TV. Para ser sincero nem sei ao certo o que teria sido essa coisa da Política XXI.

29/09/2005

CONDIÇÃO MASCULINA: serão os homens mulheres avariadas?

Como toda a gente (com a possível excepção do Nuno Markl) já sabia, pelo menos desde o século XIX, os gajos são mais diversificados do que as gajas, em tudo e até nos cromossomas (esta é a parte que só se descobriu no século XIX). Hoje já se sabe (ainda não se sabia quando se descobriu a estrutura cromossómica) que os gajos são seres pós-modernos e politicamente correctos. Um exemplo disso é o convívio criativo dos Xs e dos Ys no corpo polimórfico do homem. Ao contrário, as gajas, privadas dos graciosos Ys, são horrivelmente homogéneas nos cromossomas e nas protuberâncias, o que faz delas um género obsoleto à luz do multiculturalismo e da diversidade, sem esquecer as desconformidades com o protocolo de Kioto (como se sabe, as gajas fazem aumentar a temperatura ambiente).

Mais tarde ou mais cedo, os mecanismos da selecção natural, impulsionados pela transversalidade dominante nas práticas sexuais, conduzirão inelutavelmente à desconstrução da noção tradicional de género e todos seremos tão hermafroditas como os caracóis. Este caminho é incontornável, como tão bem previram Nostradamus, Reich, Foucault, o doutor Prado Coelho, o professor Carrilho e, surpreendentemente para quem não o conheça na intimidade, o professor Freitas do Amaral, que aliás teve a oportunidade de expor esta sua tese à Condy, a ajudante de Adolf Bush, num dos seus encontros num hotel de charme, onde ambos arrulharam amores desencontrados.

Sem prejuízo desta minha doutrina, admito sem dificuldade que existam homens que são mulheres avariadas. Um deles, possivelmente, será o Nuno Markl.

[reflexões impertinentes a propósito do artigo «Os homens são mulheres avariadas» do criativo Nuno Markl publicado numa revista para gajas chamada Activa, salvo erro]

Serão as gajas caracóis avariados?

28/09/2005

BLOGARIDADES: anda por aí uma polémica ou a fábula do ovo e da galinha

Anda por aí uma polémica a propósito do Abrupto ter malhado «o atraso, a pobreza, a ignorância, a arrogância presumida, a hipocrisia, os péssimos costumes da classe média» e (pecado mortal) «o cinismo dos intelectuais» perante as poucas-vergonhas da «saga da fugitiva libertada», isto é da «Fatinha» de Felgueiras.

«Pacheco Pereira não tem razão», diz o blasfemo João Miranda porque, explica, «a regulação das sociedades modernas não pode depender da ética individual, mas da qualidade da lei e das instituições de justiça. O bom funcionamento do sistema democrático não pode depender da virtude dos políticos nem da pressão da opinião pública mas de um sistema de checks and balances.»

A uma criatura desalinhada, desconforme, herética e heterodoxa (e homofóbica, mas isto agora não vem à colação), como o gerente do Impertinências, esta polémica, como muitas outras polémicas que por aí circulam na Bloguilha, parece-me desfocada.

E se de repente nenhum tivesse razão ou, o que é quase o mesmo, a tivessem ambos?

É certo que é puro idealismo bucólico esperar que os políticos sejam uns cidadãos impolutos, sobretudo numa democracia pouco espessa como a nossa e no estado actual das coisas, que naturalmente deriva da pouca espessura, em que a carreira política atrai a mediocracia e não a meritocracia, porque os mecanismos de anti-selecção estão lá todos montados (cito só as juventudes partidárias, esses alfobres de oportunismos e refúgio de nulidades palavrosas).

Mas donde nos virá a benção da regulação independente da ética individual, a qualidade da lei e das instituições de justiça e o famoso sistema de checks and balances? Alguém que me explique? Voltará Moisés com outras tábuas aqui ao nosso torrãozinho natal para nos revelar as regras que o povo, que não se governa nem se deixa governar, aceitará avidamente?

Se não se fazem omeletes com receitas mas sem ovos, também não se fazem democracias sem democratas, nem leis justas sem legisladores justos, nem sociedades civis onde impera a ética sem uma massa crítica de gente séria.

27/09/2005

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: a tia Zezinha e o lumpen musgueirense

- Ó stôra, atão uquéque vomecê vai fazer pela gente que somos pobres?, pergunta a mulher-barril com buço de 2 semanas, enfiada numa bata por cima da camisa de dormir.

- Fazer pedagogia.

- Fazer pedagogia? Que merda é essa ó madame!?, comenta o galã com patilha fina, argola na orelha e cordão d'ouro espreitando na camisa desapertada até ao umbigo.

- Venho explicar que não dou empregos porque não sou o engenheiro Sócrates.

- Ómessa! Pois antes fosse o senhor inginheiro para nos ajudar, a nós que somos pobres, mas não precisamos de emprego (só se for no Estado). Precisamos é de ajudas. Isso sim, empertiga-se um ancião desdentado. Olhá gaja toda finaça a fazer-se de difícil, diz triunfante, soltando um ostensivo escarro anatómico.

- Há uma cultura de direitos e poucos deveres e estas pessoas põem-se muito na posição de assistidas e não na posição de pessoas que têm de contribuir para as suas vidas (falando a boca chiusa para o jornalista ao lado).

- Quéca gaja stá prali a rosnar?, pergunta o adolescente, coçando os túbaros.

- Assiste-se mais a um fenómeno de exclusão do que pobreza e o provérbio chinês, de que é preciso ensinar a pescar, aplica-se muito bem.

- Pescar? Masatão ó stôra, a menina vem práqui pra defender os pobres ou vem mangar connosco? Pescar? A menina vê aqui algum rio a passar na Musgueira?

(diálogo quase imaginário entre a doutora Maria José Nogueira Pinto, candidata do CDS/PP à câmara de Lisboa, e os moradores durante uma visita ao bairro da Musgueira)

Declaração de voto (as if): se eu votasse em Lisboa, Zezinha, terias o meu voto, Zezinha.

26/09/2005

ESTÓRIA E MORAL: promessas

Estória
Regressa uma criatura dumas curtas férias, ainda mal refeito da exaustão das redes sem fio, e leva logo com um balanço deprimente dos feitos do governo, pela mão do pedreiro António Duarte da Grande Loja do Queijo Limiano.

Promessas não cumpridas é o que não falta: impostos que não seriam aumentados, estudos que seriam feitos sobre a reforma da segurança social, choque tecnológico, solução para a Galp, fim da contabilidade pública criativa, para só citar algumas.

Para compensar um balanço tão negativo, posso recordar que às promessas não cumpridas, sempre se poderá juntar o que foi feito sem ser prometido. Por exemplo, a substituição dos boys do PSD pelos boys do PS na CGD, nos Correios e noutros lugares comuns.

Moral
O prometido não é devido; o devido não é prometido.

25/09/2005

PUBLIC SERVICE: «The dark side of black people», as seen by a black man

LET ME START by saying that if I had my life to live over a thousand times, the one thing I would not change would be my race. I am proud to be a black man. There are times however, when I wish that certain people and I did not share that trait.

For the past few days, the whole world ... well, at least those who have access to satellite and cable television, have been seeing pictures of the virtually total devastation of the cities of the U.S. Gulf Coast by Hurricane Katrina. An estimated 90 per cent of homes in New Orleans have been destroyed by flood waters and more than 100 people have been confirmed dead.

We see people standing on the roofs of their submerged homes desperate to be rescued, others being airlifted to safety, and we have heard tear-jerking stories of families losing their loved ones. But in all of this, we have also seen the really dark side of black people.

The day after the hurricane passed, there were reports of looting but network reporters had been saying that people were looting out of desperation, in search of food and water. A lot they knew.

The pictures I have been seeing are of people - black people - stealing shoes, diapers, and television sets. Not food and definitely not water. Not unless the armfuls of clothing, shoes, and appliances I see people wading through the streets with count as food and water.

Now, if all the looters were looting out of desperation, how desperate were the guy and girls I saw toting several boxes of size 13 Nikes? How desperate was the fellow with the stack of diapers? What, is it that he has several babies at home suffering from loose bowels? What am I talking about, what home? Everything is under water and what isn't, has been totally destroyed.

Plasma TV?

And just what are those guys stealing the plasma television sets going to be watching when there is no power in the entire city?

Desperation? Yeah, right. I am beginning to believe that black people, no matter where in the world they are, are cursed with a genetic predisposition to steal, murder, and create mayhem.

The entire firearm department at a Wal-Mart department store, for example, was cleaned out and the looters used the stolen weapons to rob people. How low is that? Everybody is suffering and the black people would seek to rob people who are suffering just like themselves.

No white looters?

And it has nothing to do with poverty. Where are the white people in all this? I am sure there are poor white people living in New Orleans, Biloxi and the other towns affected by what has been going on. Is it that the media are not showing pictures of them looting and robbing? Or is it that they are too busy trying to stay alive, waiting to be rescued, and hiding from the blacks.

And you know what? Even if the poor whites were looting and robbing, wouldn't it be nice if the blacks could have made them the only ones doing it.

Just once, I would like for us blacks to take the high road in situations like this, where instead of showing our darkest side, we put our best foot forward. But I guess that would be too much to ask, too much of a case of wishful thinking.
(Leighton Levy, The Jamaica Online Star, September 2, 2005, via Dissecting Leftism)

24/09/2005

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: latpusillanimis, disse ele

- Ele gostava de ir como se ficasse.
- A sério?
- E de ficar como se fosse.
- Puf. Ele é um latpusillanimis vulgar de Lineu.
- Achas?

19/09/2005

TRIVIA: Riddling

Three witches watch three Swatch watches. Which witch watches which Swatch watch?

Three Swedish switched witches watch three Swiss Swatch watch switches. Which Swedish switched witch watch which Swiss Swatch watch switch?


(around 47.700 other jerks are asking the very same)

18/09/2005

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: não sabia de finanças, disse ele

- O que é que ele disse?

- «Mais do que isto/é Judas Iscariotis/que não sabia nada de finanças/e nem por isto deixou de trair Cristo». Acho eu.

- É um verso do Camões, não é?

- Não. Parece que é do Alegre.

17/09/2005

GLOSSÁRIO DAS IMPERTINÊNCIAS: jornalismo de causas

Só as provações que as redes sem fios têm causado aos meus neurónios explicam a falta de produção em geral e, em particular, a falta da entrada jornalismo de causas no Glossário das Impertinências. É devida uma desculpa formal ao jornalista (de causas) Armando Baptista-Bastos.

Jornalismo de causas
Nas palavras iluminadas do jornalista e escritor Armando Baptista-Bastos, o jornalismo de causas é «sobretudo o porta-voz daqueles que não têm voz». É o jornalismo em que «não há factos. Os factos correspondem à visão do mediador, do repórter». É o «jornalismo de indignação», que não é «indolor e incolor» e de revolta contra os que «querem é capar-nos».
Para o jornalismo de causas as verdades são todas relativas. E, como no futebol, segundo a definição genial dum condottieri da bola cujo nome não me ocorre agora, no jornalismo de causas o que é hoje verdade pode ser mentira amanhã, e vice-versa.

14/09/2005

ESTÓRIA E MORAL: o polvo socialista (actualizado)

Estória

«O Governo contratou António Vitorino para representante do Estado nas negociações com os italianos da ENI, no processo de recomposição accionista da Galp. Ontem mesmo, o socialista já esteve no Ministério da Economia na primeira reunião na qualidade de advogado, sentado aliás assessores do Governo neste processo.

Formalmente, a entrada em cena de Vitorino passa pela contratação dos serviços jurídicos da Parpública da Gonçalves Pereira, Castelo Branco & Associados, uma sociedade que tem Vitorino como sócio.»
(Jornal de Negócios)

Moral

Se não consegues ser sério, ao menos tenta parecê-lo.

ADENDA:
O polvo socialista não fica desculpado pelo facto do polvo social-democrata ter o ano passado envolvido no mesmo dossier o doutor Júdice pago a preço de ouro (literalmente).

SERVICE PUBLIC: l'exception française - proteccionisme chez nous, libéralisme chez vous (2)

À la continuation


(The Economist)

«On ne peut pas être favorable à ce que Suez achète Electrabel, que Pernod-Ricard achète Allied Domecq, vouloir que nos entreprises de défense aient accès aux marchés et aux entreprises des Etats étrangers, et dans le même temps ne pas accepter que l'inverse soit possible». (Henri de Castries, président du directoire d'Axa, à La Tribune)

Hélas. Pas tout le monde songe des conneries.

13/09/2005

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: protegido contra ácaros

- Com essa chave de 32 bits a minha rede fica protegida contra hackers?

- Não.

- ?

- Não se preocupe. Sem o plano tecnológico, nós por agora só temos ácaros.

(diálogo entre um franco intraprenditore e os rapazes da rede sem fios, com as sinapses torradas pelo esforço de comunicar com o router e o modem ADSL)

12/09/2005

DIÁRIO DE BORDO: o gerente do Impertinências é um franco intraprenditore

Foi Vivaldi que cunhou a expressão franco intraprenditore. Usou-a numa carta escrita em 1737, onde descreveu dessa maneira o seu trabalho, que consistia em ser, ao mesmo tempo, o compositore e o impresario das suas opere e das opere da concorrência. Um exemplo que os nossos «agentes» cólturais deveriam seguir - fazer pelas suas míseras vidinhas e deixarem-se de mendigar à porta do ministério da Cóltura.

Quatro séculos mais tarde, o impresario do Impertinências tem que manter esta porta aberta (nos últimos dias, entreaberta) e fazer pela vidinha. Não só tem aviar as suas opere e os seus melodrammi aos clientes, como ainda tem que manter os instrumentos em ordem e fazer os miglioramenti. É o que tem acontecido nos últimos dias em que a modernização do hardware e software do escritório impertinente virtual me tem desfeito as meninges. A montagem e configuração duma rede WiFi - uma arte que neste país parece ter sido entregue a émulos do David Copperfield - está a colapsar as sinapses dos dois rapazes que por aqui andam a fazer-me o serviço.

O Impertinências que já se sabia ser um franco atirador, fica-se agora a conhecer que é também um franco intraprenditore. Cada vez menos anónimo, cada vez mais respeitável.

O outro franco intraprenditore a tratar da rede com fios

11/09/2005

DIÁRIO DE BORDO: somos todos anti-americanos?


Estavam mesmo a pedi-las, disseram uns. Somos todos americanos, disseram outros (durante algum tempo).

10/09/2005

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: grande novidade

Depois da denúncia da tortura dos factos que o jornalismo de causas fez do Katrina, AB continua. É a vez da gestão pela ONU do programa «oil for money».

«Saiu o relatório final sobre o escândalo oil for food da ONU apresentado quarta-feira por Paul Volker. As últimas 1000 páginas darão muito que falar nos próximos tempos.

Trata-se de um caso de corrupção envolvendo US$ 21.000.000.000. O programa foi desenhado para ajudar o povo iraquiano mas, gerido pela ONU e beneficiando do importante contributo da França e da Rússia, acabou por reforçar e rearmar Saddam. Pelo caminho enriqueceram filhos, irmãos, cunhados, primos, parentes, colaboradores, conselheiros e amigos dos dois últimos secretários gerais da ONU.

O relatório indica, preto no branco, que para além do caso de corrupção, a ONU não está capacitada para gerir não só programas humanitários desta dimensão mas também programas bem menores.

Concluí que a ONU, tal como está, não funciona. Grande novidade.
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09/09/2005

TRIVIALIDADES: erro de casting

Após 8-anos-8 de calvário burocrático, o engenheiro Belmiro de Azevedo conseguiu fazer implodir as duas torres inacabadas em Tróia e dar inicío ao projecto da Sonae para investir 400 milhões de euros e criar cerca de 5.000 postos de trabalho.

Na implosão houve um lamentável erro de casting. Numa correcta atribuição de papéis, o engenheiro Belmiro accionaria o detonador para implodir as torres e o engenheiro Sócrates accionaria o detonador para implodir a burocracia (ou, talvez melhor, o seu próprio governo). Em vez disso o engenheiro Belmiro ficou a ver o engenheiro Sócrates a implodir as torres e lamentou-se na sessão solene a seguir que «perdeu 70% do tempo à espera de decisões dos secretários de Estado».

08/09/2005

ARTIGO DEFUNTO: a gestão dos títulos ou a tortura dos factos

Um caso exemplar da arte de manipular títulos ao serviço do jornalismo de causas.

«Sondagem: Bush geriu mal a resposta às vítimas do furacão "Katrina"», titulou o Público.

Alguns outros títulos que o texto suporta, devidamente torturado:

«Sondagem: Bush não geriu mal a resposta às vítimas do furacão "Katrina"» (58% dos inquiridos acham que foi assim assim, bem ou muito bem)

«Sondagem: Bush geriu bem a resposta às vítimas do furacão "Katrina"» (35% dos inquiridos acham que foi bem ou muito bem)

«Sondagem: Bush não tem nada a ver com o as falhas na resposta às vítimas do furacão "Katrina"» (87% não responsabilizam o Presidente)

«Sondagem: as autoridades estaduais e locais geriram mal a resposta às vítimas do furacão "Katrina"» (os inquiridos que as culpam são o dobro dos que culpam Bush)

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Katrina, with a little help from my friend

Deu-me uma branca. Foi o peso da responsabilidade do Impertinências ter ficado esta semana entalado entre o Blasfémias e o Semiramis, no «destaque» do bomba inteligente. Fiquei por assim dizer no olho do furacão, onde não se passa nada, só um sossego assustador.

Valeu-me o rigoroso relatório das operações de salvamento do Katrina que o meu amigo AB me enviou ontem. É um exercício de objectividade que ficaria bem a um jornalista desalinhado, isto é a um profissional do jornalismo. Publico-o, mesmo sabendo que não irá corrigir o enviesamento de um só esquerdalho intoxicado pelo jornalismo de causas. Até pela improbabilidade duma dessas criaturas, tresmalhada das referências que a sua frívola e insana mioleira alberga, passar pelo Impertinências, mesmo distraidamente .

Depois destas provocações preliminares, aqui vai o relatório.

«Participam nas operações de ajuda:

  • 15.000 militares do serviço activo
  • 35.000 militares da National Guard provenientes de diversos Estados
  • 2.750 membros da Coast Guard
  • mais de 200 helicópteros
  • centenas de aviões
  • 30 unidades navais, para além dos pesos pesados Truman (porta-aviões) e Iwo Jima (do porta-helicópteros) e do hospital naval US Comfort com capacidade para tratar mais de 1000 pacientes (clientes diríamos cá em Portugal) simultaneamente uma dúzia de hovercrafts.

Para comparação com o Tsunami de há alguns meses, participaram naquela altura:

  • 20 unidades navais
  • 46 helicópteros
  • 9 aviões

A National Guard da Louisiana é composta de quase 12.000 homens. 3.700 encontram-se no Iraque. Ficam disponíveis cerca de 8.000 que estavam às ordens da Governadora da Louisiana. Um rácio semelhante aplica-se ao Mississipi e ao Alabama.

Parte do atraso nos primeiros socorros foi devida aos bandos armados que dispararam contra as equipas de socorros, bloqueando assim as operações, mesmo em outros sítios por questões de prudência. Só após a intervenção da National Guard do Arkansas (com experiência no terreno no Iraque) é que tudo se normalizou.

Mais alguns dados a confirmarem a nossa conversa de ontem:

  • O Presidente dos EUA não têm competências no estabelecimento da ordem nas cidades, que depende totalmente do Mayor da cidade.
  • O Presidente dos EUA não tem poderes para impor as suas políticas, os seus planos, as suas vontades nos Estados pois quem manda são os Governadores.
  • O Presidente dos EUA pode enviar tropas para o Iraque (e mesmo assim não depende só dele) mas não para o Alabama, Mississipi ou Louisiana. A própria National Guard depende não do Estado Federal mas sim de cada Estado.
  • O Presidente dos EUA não pode mandar evacuar uma cidade, a não ser que tenha sido expressamente autorizado para tal pelo Mayor e pelo Governador da cidade e Estado em questão. Essa autorização não só não foi dada como foi recusada após um pedido formal por parte de Bush.

O plano de Bush, carente da autorização da Governadora (do partido democrático da Louisiana), incluía a intervenção do General Russel Honoré para impor uma evacuação total. O acordo a tal plano foi recusado. A candura da explicação dada pelo porta-voz da Governadora é desarmante: foi para manter o controlo das operações.

Há acusações no que respeita a diminuição das verbas alocadas à manutenção dos diques. Ora a zona dos diques que cedeu é justamente aquele que foi recentemente renovado...

Há acusações quanto ao facto dos EUA não terem aderido a Kyoto. Tal facto é atribuído exclusivamente a Bush mas de facto foi nos tempos de Clinton que o Senado vetou medidas kyotescas por 98 votos contra 0 (zero). A China e a Índia não aderiram. A Europa aderiu em massa mas ficou tudo no papel até agora. Na prática são as grandes multinacionais americanas que aplicam de forma autónoma os parâmetros de Kyoto. De qualquer forma, o aquecimento global não tem nada a ver com Katrina. Bastará ver as estatísticas do National Hurricane Center para ver que nas décadas de 30, 40 e 50 havia mais furacões e com maior violência.
»

06/09/2005

DIÁRIO DE BORDO: se eles são capazes

Não sei exactamente quando, ouvi, não sei exactamente onde, que a primatóloga portuguesa Cláudia Sousa fez, no âmbito do seu doutoramento na universidade de Tóquio, um trabalho de investigação sobre os talentos económicos dos chimpanzés.

(Admira-me que o Expresso, há meses praticando uma cruzada de exaltação dos talentos dos patrícios, ainda não se tenha lembrado de exaltar esta nossa compatriota.)

A principal conclusão desse trabalho pareceu-me ter sido que essas simpáticas criaturas se mostraram capazes de lidar com os conceitos abstractos de poupança, pelo menos quando aplicados à bóia. O estudo mostrou que esses nossos irmãos (partilhamos 98% do genoma com os manos) eram capazes de gerir com parcimónia e bom senso o excesso alimentar presente para fazer face a um futuro incerto.

Para moderar o meu entusiasmo, a patroa lembrou-me que aquelas bichezas ainda não tinha acesso ao crédito pessoal e, por isso, não seriam assim tão espertos.


Primata explicando a um humano sem plafond a importância de ser poupado

05/09/2005

TRIVIALIDADES: não é preciso agradecer-me (2)

«Freitas do Amaral poderá estar a preparar a saída do Governo num prazo não muito longo. Ao que o Correio da Manhã apurou, o ministro dos Negócios Estrangeiros, descontente com a forma como decorreu a escolha do candidato presidencial do PS e com a previsível limitação orçamental para o seu ministério em 2006, “há-de arranjar todo o tipo de subterfúgios para sair [do Executivo] por cima”, nas palavras de um alto dirigente socialista.» (Correio da Manhã)

Em Março, escreveu-se aqui no Impertinências e recordou-se aqui há um mês e meio :

«Tal como no passado traiu o doutor Soares, aliando-se com ele para chegar ao governo e dele saindo para o fazer cair, o professor Freitas irá trair no futuro o engenheiro Sócrates, mesmo que este aceite pagar o preço de o deixar preparar um futuro radioso à medida da sua vaidade. Está na sua natureza.»

ARTIGO DEFUNTO: Katrina

A cobertura mediático-sensacionalista do furacão Katrina é um exemplo perfeito do que é capaz o jornalismo de causas.

No país mais descentralizado do mundo, com mayors e governadores (*) com mais poder de decisão e dispondo de mais meios do que muitos primeiros-ministros, é o presidente Bush que o jornalismo de causas responsabiliza pela alegada falta de resposta.

Um leitor do Blasfémias faz aqui um relato objectivo e bem informado que desmistifica e repõe as coisas no seu lugar.

(*) A governadora da Louisiana e o mayor de Nova Orleães foram eleitos pelo partido Democrata.

04/09/2005

CASE STUDY: os incêndios e as funções zingarilho

Agora que se está a encerrar a estação dos incêndios florestais, se atenua o ruído mediático e se esfriam as mioleiras, é altura dum balanço. Como eram as coisas há 65 anos (fonte: Amorim Girão, Geografia de Portugal, Portucalense Editora):
(Clicar as imagens para ampliar)
. Como são hoje (fonte: Espécies Florestais 2002, Direcção-Geral dos Recursos Florestais)

O que só pode ter os resultados que se conhecem (fonte: Fogos florestais ocorridos entre 1990 e 1998, Direcção-Geral dos Recursos Florestais) E será por falta de políticas florestais e de intervenção do estado napoleónico-estalinista? Só se for por excesso. Funções zingarilho de tipo recorrente aplicáveis:

  • Quanto mais estado napoleónico-estalinista, mais política florestal.
  • Quanto mais política florestal, mais Pinus Pinaster e Eucalyptos globulos.
  • Quanto mais Pinus Pinaster e Eucalyptos globulos, menos Castanea sativa, Quercus robur, Quercus Toza e Quercus lusitanica.
  • Quanto mais Pinus Pinaster e Eucalyptos globulos, mais incêndios.
  • Quanto mais incêndios, mais estado napoleónico-estalinista.
  • Quanto mais estado napoleónico-estalinista, mais Pinus Pinaster e Eucalyptos globulos
  • Quanto mais Pinus Pinaster e Eucalyptos globulos, mais incêndios.
  • ...

03/09/2005

CASE STUDY: o paradigma socrático e as funções zingarilho

O paradigma
Como exemplo, entre centenas de outros, pode ler-se aqui no blogue pessoal do engenheiro Sócrates, pelas suas próprias palavras, a mensagem que ele achou que tinha passado na entrevista a Judite de Sousa no dia 01-02-2005:
«Penso que é importante que se diga que com o Governo do PS não é apenas de mudança de política que se fala. Vais mais além, trata-se de uma mudança de paradigma. É preciso acabar com o discurso do «choradinho» sobre o estado das coisas - discurso, aliás, que nos últimos anos muito contribuiu para a depressão da economia portuguesa (alguém se esquece do discurso da «tanga»?).
Verdadeiramente, é preciso reforçar a confiança dos portugueses no País e em si próprios. Na sua capacidade de fazer, já demonstrada em várias ocasiões. De estimular o crescimento e, com ele, do emprego e da qualidade de vida, nos seus mais diversos níveis.»
A mudança de paradigma












(Ver aqui os Inquéritos de Conjuntura às Empresas e aos Consumidores, Julho de 2005)

Os indicadores de clima económico e confiança não pararam de piorar desde Março deste ano e atingiram os valores mais baixos desde Fevereiro do ano passado.

Trata-se, sem dúvida, dum exemplo de aplicação da segunda das funções zingarilho (patenteadas pelo Impertinências no Glossário): quanto mais, menos. É também um exemplo da incapacidade dos amantes do colectivismo de perceberem os limites da engenharia social.

02/09/2005

SERVIÇO PÚBLICO: um estado gastador e incompetente

Não é só um estado gastador, um Moloch, um estado napoleónico-estalinista,é também uma vaca marsupial pública que tem penduradas nas suas tetas raquíticas muitas dezenas de milhar de vitelos mamões, confortavelmente protegidos do estresse do mundo real, que produzem, com má cara e maus modos, uns vagos serviços caríssimos e de má qualidade. (Glossário)

(Semanário Económico, 19-08)

É um estado gastador e é um estado incompetente que sofre de inumeracia crónica. «A despesa pública no ano de 2004 foi cerca de 500 milhões de euros superior ao valor que esteve na base do reporte enviado em Março pelo Ministério das Finanças a Bruxelas, ficando desta forma em perigo o limite de 3% do défice durante esse ano.» (Jornal de Negócios)

01/09/2005

SERVICE PUBLIC: l'exception française - proteccionisme chez nous, libéralisme chez vous

«WHEN is a cross-border takeover in Europe a good thing? For the French government, the answer seems to be clear. It is to be applauded when the company doing the buying hails from France, but treated with deep suspicion when the target is French. Spooked by rumours that Danone, a food company that owns much-loved French brands, might be taken over by America’s PepsiCo, the government has announced its intention to come up with a list of strategic French industries that will be protected from foreign takeover. “Our policy is not to oppose by principle every acquisition of a French company,” says François Loos, minister for industry. But if yoghurt is a strategic industry, Mr Loos’s promised list may be quite long.

While French politicians contemplate an industrial Maginot line, French businessmen are snapping up companies elsewhere in Europe. According to Dealogic, a research firm, French firms spent almost $60 billion on foreign takeovers in Europe alone in the first seven months of this year (see table). Pernod Ricard, a drinks company, bought its British rival Allied Domecq; Suez, a utilities company, bought Electrabel of Belgium; France Telecom took over Spain’s Amena, a mobile-phone operator. Just this week, another French firm, Saint-Gobain, a building-materials company, had a £3.6 billion ($6.5 billion) hostile bid for Britain’s BPB rejected.
»
(The Economist)

DIÁRIO DE BORDO: um dilema mediático

«O líder da Igreja Maná, apóstolo Jorge Tadeu, confirmou hoje à agência Lusa estar a estudar, em parceria com a LP Brothers, a forma de adquirir uma participação na Media Capital. A Maná Sat, que em Portugal emite apenas através de Satélite, quer agora entrar no mercado televisivo em sinal aberto, à semelhança da actividade que já tem em países como o Brasil e Moçambique.» (Jornal de Negócios)

O apóstolo Tadeu a hipnotizar os fiéis ou a jornalista Manuela Moura Guedes a ameaçar engolir os telespectadores?

DIÁRIO DE BORDO: depois de um xanax, um prozac em Belém?

«É preciso vencer este estado de espírito depressivo», disse o doutor Soares, ao anunciar a sua surpreendente mas incontornável candidatura, após um período de dolorosa dilaceração da alma.

Diz quem viu que foi uma cerimónia comovente, assim como uma comemoração do 5 de Outubro, mas sem algumas das múmias habituais.

SERVIÇO PÚBLICO: porque se pelam os intelectuais pelo socialismo?

Depois de Václav Havel, aqui citado, é a vez duma referência ao seu sucessor. Václav Klaus, presidente da república Checa, numa intervenção no encontro na Islândia da Mont Pelerin Society alertou para os perigos que resultam da «atracção que os intelectuais sentem pelo socialismo e ideologias similares» (resumo do Adam Smith Institute aqui).

Este é um tema que ultimamente também tem ocupado as meninges do Impertinências, a propósito dumas leituras de Raymond Boudon - tema a tratar em breve, talvez.

O texto completo da intervenção de Václav Klaus «The Intellectuals and Socialism: As Seen from a Post-Communist Country Situated in Predominantly Post-Democratic Europe» pode ser lido aqui no seu site pessoal. É o ponto de vista, exposto magistralmente, de quem viveu num laboratório do socialismo real - o único que existiu e existe, porque os outros são socialismos imaginários.