17/06/2005

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: mudam-se os tempos mudam-se as vontades

A correspondência do Impertinências está irremediavelmente atrasada. Ainda não atingiu os 1,4 milhões de processos pendentes dos tribunais portugueses (diz a Ordem dos Advogados), mas para lá caminha.

A propósito dum centro de reeducação de menores onde 50 funcionários tomam conta de 9 jovens, o meu amigo JARF enviou-me no mesmo dia do post um email relatando as suas experiências de reeducação quando jovem e presumível delinquente, coisa que, eu que o conheço, para ser franco, não me deixou surpreendido.

«Conheci bem uma dessas instituições, o Reformatório Feminino de Lisboa, mais tarde Instituto de Reeducação de S. Domingos de Benfica ao tempo de Marcello Caetano.
Adolescentes sem estrutura familiar, semi abandonados e que incorriam em pequenos delitos de rua, e se não havia avós responsáveis eram aí colocadas pelos tribunais de menores até à maioridade (tipicamente o pai deixava o salário na taberna, e mãe andava na vida).

O Reformatório tinha 4 ou 5 empregadas de secretaria, 4 preceptoras, 4 auxiliares e 4 vigilantes ( os nomes são os autênticos da época), 1 cozinheira e 1 motorista, 1 jardineiro e 1 hortelão. Mais a directora. Médico e padre etc. em outsourcing. E albergava um número variável de jovens entre 60 e 110. O rácio de empregados por instruendo neste tipo de instituições deteriorou-se bué nos últimos 40 anos. Tão só 15 ou 16 vezes.

Mas há mais: as internas confeccionavam a maior parte da roupa que vestiam, e a horta provia ao sustento em legumes, galináceos, etc. com a ajuda de uma brigada de internos de outra instituição dependente do Ministério da Justiça, a vizinha cadeia de Monsanto. E havia disciplina, e todas saíam com pelo menos a 4º.Classe (situo-me nos anos 40, 50, 60).

Após concluir a licenciatura em Direito em 1933, a minha mãe concorreu através de anúncio de jornal, ao lugar de sub directora e ficou. Passou a directora 5 anos depois, e exerceu aí a sua actividade profissional até se reformar aos 65 anos com 42 de função pública. Tinha direito a casa, dentro das instalações, um palácio do Sec. 18 construído por um rico comerciante huguenote, Gerard de Visme, mais tarde confiscado pela República às dominicanas. Não creio que tivesse muito que fazer, para além de umas conversa e relatórios para o director geral, por isso teve oito filhos.

Quem me conhece não ficará surpreendido quando digo que nasci num reformatório, e colaboraram na minha educação alguns cadastrados, inclusive assassinos.»

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