Estória
O Boletim Económico - Primavera 2005 do BdP traça-nos um retrato dum país que caminha alegremente para o abismo.
Com um crescimento anémico de 1,1% do PIB em 2004, que compara com os 1,8% da zona Euro (lá se vai a convergência para o inferno, uma vez mais), 4,4% do EU e os 5,1% da economia mundial, o imparável optimismo dos consumidores portugueses levou-os a aumentarem em 2,5% o consumo privado no ano passado.
O aumento de consumo privado fez-se à custa dum incremento de 7% do endividamento, que passou para 117% do rendimento disponível das famílias. À míngua da oferta interna, o défice da balança comercial afundou-se para 10,8% do PIB.
O consumo público também não deu mostras de abrandar, apesar de 2 anos de aperto do cinto que segurava a tanga que o engenheiro Guterres deixou ao doutor Durão Barroso. O défice primário estrutural aumentou 0,3% em 2004 e o défice total, expurgado da venda dos brincos, atingiu 5,2%.
É neste quadro alegre e cheio de confiança no futuro que o Expresso continua a sua campanha para promoção da auto-estima dos portugueses. Em cada nova edição os jornalistas, agora transformados em animadores culturais, rebuscam nas pregas do moribundo tecido empresarial português os exemplos de excelência para infectar com optimismo as mentes dos portugueses. Optimismo que no entender dessas almas se encontra seriamente ameaçado. O mentor desta nova doutrina é o incontornável doutor Balsemão que vai agora realizar a conferência «Portugal em Exame» que, segundo ele, será o lugar de iniciação das massas no novo culto.
Alguém deveria explicar ao doutor Balsemão e aos seus jornalistas que são eles próprios que começam a estar carecidos de se animarem. A episódica onda de esperança criada pelo tsunami opinativo com que os média afogaram o infausto doutor Santana Lopes, está prestes a morrer na praia do engenheiro Sócrates. E isso vê-se cada vez mais nas páginas do Expresso.
Grande parte dos talvez 200.000 leitores do Expresso precisará também de ser animada. Afinal eles fazem parte da intelligentzia doméstica toda ela tão entumecida de auto-estima como o populacho. Seja a intelligentzia dos estrangeirados que acham que o país não os merece, seja a esquerdalhada impaciente pelos amanhãs que cantarão quando o povo seguir a sua visão delirante.
E a coisa não tem remédio? Poderá ter, mas não com injecções de optimismo ou de auto-estima. Para se levarem a cabo mudanças tão profundas como as que são necessárias é preciso ter uma percepção clara das ameaças que pairam sobre as nossas cabeças. Essa percepção só se constrói com desagradáveis discursos da verdade.
Moral
«Persista. Nada no mundo pode tomar o lugar dc persistência. O talento não pode, nada no mundo é mais comum que homens falhados com talento. O génio também não: o génío não recompensado é quase um provérbio. A educação também não: o mundo está cheio de falhados bem qualificados. Só a persistência e a determinação são omnipotentes.» (Calvin Coolidge)
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