Sumário executivo
Talvez os Artistas tenham que desistir da Arte (com maiúscula). Um dia, o mais tardar em 2057 quando o primeiro governo liberal tomar posse, os Artistas serão despromovidos a artistas e terão que resignar-se a produzir arte (com minúscula).
Alguns leitores do Impertinências insurgiram-se contra o post A dependência da arte independente. [Quem se insurgiu não foram os insurgentes que, aliás, parece terem-no apreciado.]
Quem se insurgiu foram detractores e o que escreveram (e disseram) pode ser resumido à pergunta feita por um deles: «como é possível num país pobre fazer-se Arte (com maiúscula) sem recurso aos subsídios pagos pelo Estado (com maiúscula), que afinal somos todos nós (com minúscula)?»
Possível ou não, não é um problema exclusivo da Arte (com maiúscula). Seria possível produzir no país quase todos os produtos se a sua produção fosse subsidiada pelo governo com o dinheiro dos contribuintes. Em que são diferentes dos outros os produtos culturais? Essencialmente por terem um mercado com um número limitado de clientes - umas elites urbanas que, tudo por junto, dificilmente ultrapassam uma centena de milhar de clientes potenciais para esses produtos.
O populacho está-se borrifando para esses produtos culturais e não se vê razão para seja ele a pagar com os seus impostos os gostos extravagantes dumas elites que, ainda por cima, dispõem de rendimentos que fariam a felicidade da plebe. O populacho está-se tão nas tintas, como as elites se estão nas tintas para os seus gostos vulgares.
O que fazer? O preço de mercado resulta dos custos de produção e os clientes pagam o preço de mercado. Mas, nesse caso, o que seria feito do nosso teatro, do nosso cinema, da nossa ópera? Os produtores morreriam de fome ou mudariam. Mudar, adaptando os seus produtos às preferências dum público com dimensão suficiente para viabilizar o produto, em vez de fazerem, por exemplo, filmes vistos por 62 espectadores e sustentados pelo denominado modelo de financiamento do cinema português
Mudando, deixariam assim de olhar «demasiado para o umbigo (fazendo) filmes para que os seus colegas digam muito bem (sem) pensar no público». [ver aqui uma parte da entrevista de Mário Dorminsky]
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