1. As juras
O engenheiro Sócrates disse em, várias ocasiões, com sofisma ou por distracção (não é muito relevante, por agora), que os impostos não iam aumentar. Não há a menor dúvida sobre isso. Para não perder mais tempo a catar os links, remeto para o post Read my lips do blasfemo João Miranda. Cito: «Mas também não estou de acordo com a subida de impostos, não estou. Porque isso também já foi uma receita do passado. Isso já foi feito no passado e não produziu bons resultados. Eu não acho que os problemas das contas públicas em Portugal se possam fazer à custa da Economia, fazendo lançar impostos.»
É claro que foi um compromisso no mínimo imprudente e, para quem costuma ruminar todo o que diz, irresponsável, quando até o porteiro do ministério das Finanças suspeita do estado de calamidade em que se encontra a gestão financeira do Moloch.
2. A dura realidade
No sábado passado, o indigitado ministro das Finanças professor Campos e Cunha «disse o óbvio» em entrevistas à TSF e Rádio Renascença: «é provável que nos primeiros tempos tenha de haver um aumento de impostos».
3. Protestos e uivos
Nos dias seguintes as luminárias do PS protestaram que o indigitado ministro não queria dizer o que disse. Os analectos uivaram imediatamente para a lua os seus protestos, pela garganta do tele-evangelista.
4. O lugar do outro
Na 2ª Feira o DN publica dois textos de mais luminárias do PS. O texto do engenheiro Cravinho protesta que «o Estado paquidérmico, burocratizado, despesista e constrangedor ou mesmo anulador do dinamismo do mundo dos negócios e da pujança de iniciativas do mundo empresarial» não passa duma invenção dos média. Para ele o estado das coisas deriva da falta de «um capitalismo capaz de gerar e desenvolver empresas fornecedoras de produtos e serviços desejados no mercado global pela sua alta qualidade». O que não deixa de ser verdade, mas passa ao lado do problema. O governo não tem que fazer nascer «um mundo de PME competitivas e inovadoras das cinzas do capitalismo tradicional». Não se espera tanto, senhor engenheiro. Espera-se apenas que os seus camaradas no governo tratem da parte deles: pôr o Moloch a trabalhar aceitavelmente no seu core business, seja ele o que for, e fazer-lhe uma brava lipoaspiração.
5. As inconveniências do outsider
O outro texto do DN de 2ª Feira é a lúcida entrevista do professor Daniel Bessa onde, sem o sentido das conveniências políticas, conclui que «o perigo maior que Portugal corre é de se tornar numa espécie de Sicília. Proteccionista, muito dependente do Estado, pouco liberal, pouco aberta, com pouca concorrência ou espaço para o mérito e para a afirmação. Todos sabemos a rota descendente que a Sicília cumpre e cumprirá enquanto continuar assim. A minha convicção profunda é que, se as coisas correrem bem, o desemprego aumentará.»
6. A poção mágica de Asterix
Esgotada a venda dos anéis para pagar as mercearias e à míngua das reformas da administração pública, resta alterar as medidas - ó filho se pesas 90 kg e medes 1,60 m o que tens a fazer é passar o quilograma para 1.250 g e o metro para 90 cm e ficas um gajo esbelto com 72 kg e 1,78 m. Foi o que esteve a tratar em Bruxelas, com o beneplácito do PS, o doutor Bagão Félix, ministro em extinção das Finanças em extinção. Felizmente não chegaram a acordo sobre se a peso devia ser em jejum ou depois do almoço e incluiria ou não o paletó, nem sobre se a altura seria medida com ou sem sapatos.
7. O que nos espera?
Os diagnósticos são variados. O prognóstico sobre a saúde do «homem doente da Europa», que no passado era o império otomano e hoje é o quinto império é reservado.
O aumento do IVA para 20% já está escrito nas estrelas. Com o elixir que vier de Bruxelas talvez se possa descontar as despesas de investimento ao défice, ou praticar outra qualquer manigância parecida. Com a competitividade da Alemanha a melhorar empurrando a economia (ver o Economic Focus de 19-02), espera-se que esta puxe, por sua vez, pelo comboio europeu, e reza-se, para que a decrépita carruagem lusa seja penosamente arrastada durante algum tempo. Não muito, apenas o suficiente, para chegar às próximas eleições. Entretanto, talvez resulte destes epifenómenos uma passageira melhoria que justifique uma euforia pontual antes de cair na próxima depressão - uma espécie de dead cat jump como chamam os analistas financeiros ao aumento ligeiro e não sustentado que se segue a um crash nas bolsas de valores que afunda as cotações durante os meses (ou anos) seguintes.
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