25/03/2005

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Assassinamento de carácter?

Secção Albergue espanhol
Noutros pontos do planeta, onde as coisas seguem o seu curso normal, às pessoas cai-lhes o cabelo, os dentes, começam a sofrer da próstata, das artroses e de todo um ror de outras maleitas. Como fraca contrapartida da decadência, ganham um módico de siso e à medida que os radicais livres circulam em maior quantidade nos seus corpos, quase desaparecem das suas mentes. Nesses outros pontos do planeta, o professor Freitas do Amaral seria um alienígena. Entre nós, as coisas passam-se frequentemente de forma singular e até os nossos políticos são atacados de esquerdismo senil em idades avançadas. É o caso, também, do doutor Soares.

A mudança de opinião do professor Freitas, passando sucessivamente de delfim do professor Marcelo Caetano, a fundador do CDS, de fundador do CDS a seu inimigo declarado, de fascista aos olhos do doutor Soares e de toda a esquerdalhada, a compagnon de route do doutor Soares e dos Anacletos, por muito excessiva que seja a sua mudança para uma só vida, em si mesmo não tem nada de censurável.

O que se pode censurar - já outros o disseram e escreveram - é que tendo recentemente exprimido convicções absolutamente incompatíveis com o alinhamento internacional do seu país, o professor Freitas tenha aceite ser ministro dos Negócios Estrangeiros, posto onde se espera que aplique uma política consistente com esse alinhamento.

É certo que ele não disse que o presidente Chirac é um político corrupto que fez e fará tudo para se manter no poder, beneficiando de leis aprovadas com o propósito preciso de evitar a sua condenação. Não, ele apenas deu, segundo as palavras do doutor Marques Mendes no debate na AR, «dez razões para considerar Bush um político de extrema-direita. Em quatro delas expressa uma equiparação a Hitler, em três a Salazar, em duas a Pinochet e numa ao generalíssimo Franco» [Visão]

O professor merece 5 ignóbeis porque, mais do que ter aceite, se fez ao posto de MNE, justificando-se com o esfarrapado e ridículo argumento de que «hoje a situação é muito diferente, sobretudo depois da vinda de Bush à Europa» - um insulto à inteligência de quem o ouviu.

Leva mais 5 bourbons pelo ego, permanentemente enfatuado, que ostenta há muitos anos, no convencimento de ser portador dum génio incompreendido que nunca encontrou um cargo à sua altura. «Estão cheios de inveja deste governo que tem pessoas, como EU, que os deixam esmagados» disse a luminária e escreve o Impertinências, esforçadamente, saindo com dificuldade debaixo do peso esmagador do Dinossauro Excelentíssimo.

E já que escrevo sobre o passado, escrevo também sobre o futuro, arriscando um prognóstico. Tal como no passado ele traiu o doutor Soares, aliando-se com ele para chegar ao governo e dele saindo para o fazer cair, o professor Freitas irá trair no futuro o engenheiro Sócrates, mesmo que este aceite pagar o preço de o deixar preparar um futuro radioso à medida da sua vaidade. Está na sua natureza.

Não, este post não é necessariamente um assassinamento de carácter. Para haver crime teria que haver vítima. Ou não?


Perguntar não ofende: você emprestaria o seu automóvel a este sujeito?

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