04/02/2005

CASE STUDY: Os programas não são para se cumprir (1)

Afinal o que é para a teoria da gestão um programa? Um plano com determinadas premissas, com objectivos (que são finalidades dos planos), com estratégias (que são caminhos para atingir essas finalidades), com políticas (que são critérios para decisão) e orçamentos (que são planos quantificados). Neste sentido nenhum dos «programas» apresentados pelos partidos pode ser considerado um programa. São amálgamas de boas com más ideias, listas de votos piedosos, resmas de medidas avulsas, colecções de números arremessados por crânios aleatórios.

Ainda não tive a pachorra de os analisar. Por agora só ganhei coragem para me punir com um resumo que o Semanário Económico publicou. Ao cumprir penosamente essa penitência, lembrei-me de um seminário de direcção participativa por objectivos (um tema muito na moda em França a seguir ao bouleversement du mai 68 e que chegou cá com 10 anos de atraso, como tudo o resto). Um dos participantes do seminário contou uma estória deliciosa para ilustrar a ideia de que os planos não são para se cumprir (à letra).

A primeira parte da estória seria história segundo ele: um deputado qualquer gritou com grande exaltação numa sessão da assembleia que «os planos são para se cumprir!» - não sei quais os planos a que se referia, mas planos, em todo o caso. Uma parte da assembleia reagiu aplaudindo de pé (não sei que parte, nem interessa para o caso). A partir daí entramos no domínio da ficção. Segundo o contador da estória, algum tempo depois esses deputados embarcaram todos num mesmo voo da TAP. O comandante explicou detalhadamente o plano de voo a tão ilustres passageiros, referindo a rota, a altitude, o tempo previsto de chegada, etc. Ao fim de algumas horas de voo, o comandante recebeu novas informações meteorológicas (as premissas alteraram-se) e instruções do controlo aéreo para mudar de rota, evitando previsíveis e perigosas turbulências na rota inicial. Apressou-se a informar os senhores deputados de que iria alterar o plano de voo. Escutou embasbacado o coro de uma centena de vozes alucinadas gritando: «os planos são para se cumprir!».

Quais as semelhança entre um plano de voo e estes «programas» de governo? Duas. Os programas de governo apesar de não terem um destino, nem uma rota, nem uma altitude, nem uma hora de chegada, também têm uma hora de partida e não são para se cumprir.

[Sequelas possíveis nos próximos tempos, dependendo da meteorologia]

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