As premissas
Premissa A
O bom povo português é profundamente feminino (ver, por exemplo, o post impertinente Macho? Moi?). Atributos do estereotipo feminino: ciúme do sucesso e amor desvelado ao desgraçadinho. Quem quer que seja visto como vítima tem garantida a sua simpatia.
Premissa B
O bom povo português está cansado de apertar o cinto e espera ansiosamente melhores tempos para trocar de casa, de carro, de electrodomésticos e passar das férias no pardieiro da Quarteira a outras paragens. Precisará de mais alguns anos e de várias crises para aceitar as drásticas reformas indispensáveis para o país sair da fossa e galopar atrás da Europa dos outros 24. Até lá, como bem antecipa o Jaquinzinhos, não haverá voluntários ao suicídio político que seria liderar um governo para fazer essas reformas.
Premissa C
O doutor Lopes, que é incompetente como primeiro ministro, mas não é parvo, renascerá das cinzas, vitimando-se. Tem boas razões para isso: os média, os comentadores, os analistas, os barões do seu próprio partido, o presidente da República, fizeram deste governo o bombo da festa (também tiveram boas razões para o fazer).
Premissa D
O doutor Lopes não precisará de nenhum congresso do PSD para se legitimar. Já foi eleito sem oposição. Os barões tiveram falta de comparência (com excepção do mais pequeno deles todos, mas que, nem por isso, é o menor) e perderam a legitimidade para colher os frutos da queda do governo. O doutor Cavaco tem mais do que fazer do que dar outra vez para o peditório do doutor Pacheco Pereira.
Os cenários
Cenário 1
O choradinho do doutor Lopes comove os eleitores que dão ao PSD a pole position, mas não a maioria (apesar de tudo o bom povo não é assim tão parvo). O doutor Portas, consegue um bom resultado e chega-se a frente para a coligação. O doutor Sampaio constata que deu dois tiros, um em cada pé, e convida o doutor Lopes a formar governo. O doutor Lopes, enquanto puder, derramará sobre o povo os frutos da sua bondade. Quando sair (Assembleia dissolvida pelo engenheiro Guterres, entretanto eleito) o povo terá compreendido, finalmente, que está fodido, mas poderá não ter ainda percebido o que será necessário para deixar de o estar.
Cenário 2
O choradinho do doutor Lopes não comove suficientemente os eleitores que dão ao PS a pole position, mas não a maioria (apesar de tudo o bom povo não é assim tão parvo). Dos dois tiros que deu nos pés, o doutor Sampaio só perceberá um deles, e convida o engenheiro Sócrates a formar governo. O engenheiro Sócrates não fará uma coligação com o doutor Jerónimo (não é parvo e percebe que daria uma injecção de adrenalina ao moribundo), nem com o doutor Anacleto (o engenheiro Sócrates é parvo, mas não tanto). O engenheiro Sócrates (que não é muito diferente do doutor Lopes, só que tem uma ejaculação menos precoce), fará umas reformazitas de emergência, deitará pela borda o pouco que o governo PSD-PP fez de positivo, e prolongará a ilusão do bom povo de que poderá continuar a empurrar o problema com a barriga para a frente. Quando terminar o seu trabalho podemos rebobinar e voltar ao princípio: os mesmos problemas, agravados, e alguns novos. O engenheiro Sócrates terá a desculpa de mau pagador do costume: não tem maioria. Poderá aspirar a um segundo mandato.
Cenário 3
O choradinho do doutor Lopes não comove suficientemente os eleitores e o povo está tão carente que vê no engenheiro Sócrates o embuçado saído do nevoeiro que o conduzirá ao paraíso sem esforço. O governo maioritário PS fará as mesmas coisas que no cenário 2 e acrescentará mais alguns dislates, apenas com a vantagem de, no final do mandato, não ter boas desculpas. Nessa altura podemos rebobinar, como no cenário 1, com a diferença que o engenheiro Sócrates terá as suas aspirações a um segundo mandato comprometidas.
Entre os 3 cenários, venha o diabo e escolha.
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